quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ex-menino de rua ostenta coleção de camisas avaliada em mais de R$ 1 mi


José Oliveira tem mais de 3 mil uniformes, incluindo raridades como camisa de Pelé em 62. Terno do Rei em 58 é oferecido por R$ 137 mil na internet

Por Felippe Costa
Rio de Janeiro
Como muitos brasileiros, o pernambucano José Oliveira tem a vida marcada pela superação e sua história renderia um belo livro motivacional. Nascido no interior, ele conviveu com dificuldades que o fizeram fugir de casa com apenas 8 anos para morar nas ruas de Salvador, na Bahia, onde ficou até os 10. Depois de enfrentar a fome, discriminação e algumas agressões, hoje, vive no Rio de Janeiro com o sorriso no rosto e ostenta uma das mais valiosas coleções de camisas e objetos de futebol do Brasil avaliada, por ele mesmo, em mais de R$ 1 milhão.
josé colecionador de camisas (Foto: Felippe Costa/GLOBOESPORTE.COM)José entre algumas de suas camisas da valiosa coleção (Foto: Felippe Costa/GLOBOESPORTE.COM)
- Desde pequeno, por motivos de necessidade, trocava muita coisa para viver. Quando era menino de rua, me oferecia para levar o carrinho de compra das pessoas e recebia um dinheiro. Falando nas camisas, comecei em Búzios trocando com alguns turistas. Acabamos (ele e a mulher) abrindo uma lojinha na cidade, mas com a crise na Argentina fechamos logo depois. Para não ficar parado, fiz um anuncio em um site de leilão. Apareceu até gente de Belo Horizonte para ver as camisas. Assim, comecei a aumentar minha coleção.
Atualmente, com cerca de 3 mil camisas de times do mundo inteiro, José afirma que consegue a maioria através de doação de amigos e ex-jogadores. A coleção tem uniformes usados por craques em Copas do Mundo (como Ronaldo, Romário, Rivaldo, Bebeto, Pelé, Pepe, Cristiano Ronaldo, Materazzi e Zidane), chuteiras, flâmulas e até medalhas históricas, como as do bi do Mundial Interclubes do Santos e da Seleção campeã do mundo em 1958 e 1962. Segundo ele, sua rede de conhecidos é muito grande, o que facilita a aquisição de verdadeiras relíquias.
- Começamos a fazer uma rede grande de amigos e a trabalhar com coisas antigas. Hoje, conhecemos muitos jogadores e ex-jogadores de futebol. Muitos vendem não pelo dinheiro, mas pela quantidade de coisa em casa. Também tenho uns cinco amigos na Seleção que me ajudam.
Para deixar tudo registrado, ele criou a empresa “Prorrogação” que é dividida com a esposa Valéria Gouvêa e faz comercialização em sites de vendas. No site "Ebay", por exemplo, um terno que teria sido usado por Pelé na Copa de 1958 (autografado) foi anunciado por 50 mil libras (R$ 137 mil), mas não recebeu ofertas.
Terno de Pelé na Copa de 1958 à venda por colecionar na internet (Foto: Reprodução)Terno de Pelé na Copa de 1958 à venda pela empresa de José na internet: R$ 137 mil (Foto: Reprodução)
Experiente no assunto, o casal já encontrou algumas farsas que, se não fosse o conhecimento vasto de uniformes históricos, poderiam ter causado um bom desfalque na conta bancária.
- Sabemos o tamanho da fonte e outras coisas características de uma camisa oficial. Existe muita gente que monta uniformes. Quem não conhece acaba comprando uma coisa falsificada. Isso acontece muito na Europa. Uma vez, recebi uma pessoa que me trouxe uma camisa do Pelé, mas o fornecedor da camisa não era o usado pelo Santos na época. O cara ficou tão sem graça que nunca mais voltou.
De todas elas, a mais valiosa é a do próprio Pelé. A raridade da Copa do Mundo de 1962 foi adquirida com um senhor de 92 anos, que participava de um ‘concurso’. A peça chegou a ser oferecida por R$ 100 mil.
josé colecionador de camisas (Foto: Felippe Costa/GLOBOESPORTE.COM)
Camisa que Pelé usou na Copa do Mundo de 1962
(Foto: Felippe Costa/GLOBOESPORTE.COM)
- Não lembro quando foi, mas a Ana Maria Braga fez uma promoção no programa dela e prometeu dar um carro para quem levasse uma camisa do Pelé e outras coisas inusitadas. Acabei indo para o centro da cidade do Rio concorrer. Quando cheguei lá, vi um senhor com duas camisas do Pelé e fiquei impressionado. Perguntei se eram verdadeiras e se ele queria me vender, mas pediu R$ 100 mil. Disse que o primo era fotógrafo do Getúlio Vargas (ex-presidente do Brasil) e da Seleção Brasileira na Copa de 1962. O familiar ganhou a camisa após ajudar a carregar Pelé até o vestiário, quando ele sofreu a contusão que o tirou da competição. Acabei oferecendo um preço muito menor e fechamos o negócio no mesmo dia - disse ele, que não quis revelar o valor pago.
O grande sonho de José, que só não comercializa os uniformes do time do coração, o Náutico, é conseguir um parceiro para fazer uma exibição. Para ele, sua coleção é uma grande oportunidade para que os amantes do futebol possam entrar na história do esporte mais popular do mundo.

- Penso em poder mostrar essas camisas para muita gente. Imagina um pai podendo levar o filho para conhecer a camisa de um jogador que marcou a história do seu time. Quero aproveitar a Copa do Mundo para apresentar minha coleção.

josé colecionador de camisas (Foto: Arquivo Pessoal)Coutinho e Pepe, ex-Santos e Seleção, já venderam artigos para a coleção de José (Foto: Arquivo Pessoal)fonte: globo