domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sinalizadores, querosene e protestos: o palco da tragédia três dias depois


Estádio Jesús Bermudez continua com lembranças do jogo entre Timão e San José. Polícia reconhece falha na revista para vetar artigos pirotécnicos

Por Diego Ribeiro
Oruro, Bolívia
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Corinthians - Estádio Jesús Bermudez, três dias após a morte de Kevin (Foto: Diego Ribeiro)
Galão de querosene ainda não foi retirado do Estádio
Jesús Bermudez, em Oruro (Foto: Diego Ribeiro)


Três dias após a tragédia que matou o garoto Kevin Douglas Beltrán Espada, de 14 anos, o Estádio Jesús Bermudez parece ter parado no tempo. Sujeira, restos de sinalizadores, panos e até um galão que ainda cheira a querosene foram encontrados pela reportagem do GLOBOESPORTE.COM em visita ao local na tarde deste sábado. O único acesso aberto foi ao setor de arquibancada atrás de um dos gols, onde costuma ficar a “La Temible”, torcida organizada do San José.
Alguns restos de artefatos pirotécnicos foram encontrados, mas um deles chamou a atenção por estar quase intacto. Um sinalizador descartável, bem menos potente do que o utilizado pela torcida do Corinthians, tinha as inscrições “Football Torch” (Tocha para futebol), deixando bem claro qual seria a indicação de uso do objeto.
Apesar de oferecer bem menos perigo do que os modelos utilizados pelos corintianos, a entrada de diversos sinalizadores vai de encontro ao que dizia a polícia boliviana – que a revista foi muito bem feita, e que a entrada desse tipo de objeto se deu por acidente. O major Antenor Mendrano, da Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen, reconheceu que houve falha na fiscalização.
Corinthians - Estádio Jesús Bermudez, três dias após a morte de Kevin (Foto: Diego Ribeiro)Grade do estádio que recebeu pirotecnica da 'La Temible', torcida do San José (Foto: Diego Ribeiro)
– Se tantas bengalas (nome dado aos sinalizadores na Bolívia) entraram, algo estava errado. Isso está sendo investigado, o motivo de a revista não ter sido bem feita. Estamos fazendo de tudo para que isso não ocorra mais. Não queremos mais esse tipo de artefato nos estádios – disse Mendrano.
O major também lamentou a presença do galão de querosene, que serviu para acender o mosaico da “La Temible”, que pegou fogo durante quase 10 minutos. O procedimento utilizado foi simples: o nome da torcida foi formado com pedaços de jeans e molhado com o querosene, altamente inflamável. Bastou um fósforo para acionar o mosaico.
Corinthians - Estádio Jesús Bermudez, três dias após a morte de Kevin (Foto: Diego Ribeiro)
Parte de sinalizador foi encontrado nas dependências
do estádio neste sábado (Foto: Diego Ribeiro)
– Isso é grave, mas às vezes não há controle. Precisamos aumentar esse tipo de fiscalização – explicou o major.
Além dos objetos pirotécnicos, havia muita sujeira nas arquibancadas. Entre os artigos mais curiosos, dois cartazes de protesto à mudança de nome do aeroporto local, que agora se chama Evo Morales, atual presidente da Bolívia. A população de Oruro quer que o nome original seja reutilizado: Juan Mendoza, responsável pelo início da aviação na Bolívia.
Durante a manhã, o San José treinou no estádio. No entanto, o palco parece abandonado após a tragédia. Curiosamente, o local mais limpo é justamente aquele onde se encontrava a torcida do Corinthians – e de onde saiu o disparo do sinalizador que matou Kevin Beltrán Espada.
Corinthians - Estádio Jesús Bermudez, três dias após a morte de Kevin (Foto: Diego Ribeiro)Parte de artefato pirotécnico utilizado pela torcida do San José, no jogo contra o Corinthians (Foto: Diego Ribeiro)
Corinthians - Estádio Jesús Bermudez, três dias após a morte de Kevin (Foto: Diego Ribeiro)Estádio Jesús Bermudez, três dias após a morte de Kevin, apresenta muita sujeira (Foto: Diego Ribeiro)fonte: globo