terça-feira, 14 de maio de 2013

Pai do meia Willian fez pagamentos para ajudar a levar jogador à Seleção


L!Net desvenda como é atuação de lobistas com a promessa de convocação para amarelinha. Jogar no time em 2011 ajudaria Willian em transferência para o futebol inglês


Willian - Anzhi (Foto: Divulgação/Anzhi)
Na expectativa de conquistar bons contratos, jogadores e seus familiares se enrolam em tenebrosas transações acreditando em bons negócios. São atraídos por empresários e intermediários, às vezes desconhecidos, que acenam com promessas de “melhorar a imagem” do atleta para ajudá-lo a conquistar uma vaga na Seleção Brasileira, como se a escalação dependesse de marketing e de prestigio junto aos cartolas da CBF.

Sonhando com a amarelinha, eles firmam acordos e gastam altas quantias sem qualquer garantia real de cumprimento das promessas. Em um destes casos, o contrato assinado e não cumprido virou briga judicial com direito a reclamação criminal no DEIC e ação de ressarcimento na 9ª Vara Cível do fórum regional de Santana. Por enquanto, nenhuma das duas iniciativas gerou resultado.

Severino Vieira da Silva, 52 anos, pai do meia Willian, 24 anos (ex-Corinthians e Shakhtar, hoje no Anzhi, da Rússia), desde setembro de 2011 tenta reaver os R$ 100 mil entregues um ano antes, como primeira parcela de um total de R$ 500 mil, em um destes contratos.

O acerto foi com Luiz Phillippe Gomes Rubini, da One Off Marketing Esportivo Ltda., que diz empresariar “por volta de 20 atletas, como o Cicinho, do Sevilla”. O objetivo do negócio era melhorar a imagem de Willian “visando à promoção do mesmo, até possível convocação para a Seleção Brasileira”.

Os dois, segundo Rubini, se conheceram ao residirem em um mesmo prédio em São Paulo. Mas, a One Off foi só intermediária, pois repassou imediatamente o contrato firmado com a firma do pai de Willian, a Sport Mundial Administração Marketing e Negócios Esportivos Ltda., para o ex-jogador Jorge Luiz Flores da Silva.

Dono da JF Proffi Futebol Marketing e Assessoria Esportiva Sociedade Simples Ltda., Jorge Luiz era um desconhecido. Rubini o conheceu ao lhe ser apresentado “por um cara de Curitiba, que falou que este cara era o cara”. Não procurou detalhes da empresa de Jorge. Respaldado apenas na apresentação e na promessa de melhorar a imagem de Willian e fazê-lo chegar à Seleção foi que, em 25 de novembro de 2010, após a Sport Mundial contratar a One Off pelos R$ 500 mil, pagando R$ 100 mil como sinal, esta repassou a tarefa – e o dinheiro – para Jorge Luiz.

A terceirização, segundo Rubini, tinha o apoio de Severino: “eu ia intermediar o que outras pessoas iam fazer, porque ele não queria aparecer. Ele queria que eu fizesse este trabalho, até para não gerar um vínculo de ele ser o pai”, explicou.

Oficialmente os documentos registram o compromisso do trabalho na “veiculação da imagem do atleta, visando à promoção e até a possível convocação para a Seleção”. Mas, informações repassadas ao LANCE!NET por um amigo de Rubini, falam em promessas de alguma interferência junto à CBF pela convocação.

Ao ser confrontado com esta versão, Rubini reconhece que ela foi espalhada por João Carlos, um de seu conhecidos que ele não evita em desclassificar: “é o cara mais 171 da História do futebol. Ele não tem aonde cair morto.”
De fato, na conversa com o L!Net João Carlos insinuou que haveria cobrança pela informação e deixou de atender aos telefonemas quando soube da recusa do jornal em pagar.

TREINADORES ACABAM 'ABSOLVIDOS'
Como não poderia deixar de ser, a versão da pressão junto à Confederação Brasileira de Futebol é prontamente rechaçada por Rubini: “Isto não existe, chegar para o Mano (Menezes, ex-técnico da seleção) e falar, “ó meu, convoca o cara!” Ele manda qualquer cara à m... Fala isto para o Felipão, meu! Tá doido!”.
Willian foi convocado por Mano Menezes em outubro de 2011 para jogos com Gabão e Egito, em novembro. Para Rubini, isto ocorreu pelos próprios méritos do jogador que o então técnico da Seleção conheceu no Corinthians.

Procurada pelo LANCE!, a CBF evitou comentar o caso, alegando que nenhum membro ou dirigente foi citado diretamente. De acordo com a assessoria de imprensa da entidade, esse prática não é adotada e os técnicos têm total liberdade para convocar os atletas, sem interferência de qualquer dirigente ou pessoas ligadas à entidade.

JOGAR NA INGLATERRA ERA O OBJETIVO
O interesse da família de Willian, na versão revelada ao L!, era atender aos requisitos exigidos pela Inglaterra para um atleta estrangeiro jogar no país. Cobra-se sua participação em, no mínimo, 70% das convocações da seleção do seu país. Willian havia recebido propostas do Chelsea e do Tottenham.
O curioso na contratação de Jorge Luiz para “trabalhar a imagem” de Willian é que o meia mantém contrato com uma assessoria de imprensa – a Comcept Comunicação Esportiva – com profissionais especializados nesta missão.
Nas três vezes em que foi procurado pelo L!Net – através dos assessores de imprensa do filho, do seu advogado e por um telefonema direto –, Severino recusou-se a falar. E ainda ameaçou: “Não quero falar, não tenho nada a falar. Faça seu trabalho, mas fala o certo, até porque se sair errado a gente processa”. Já o meia Willian, por sua vez, através da Comcept, recusou-se a comentar o assunto sem conhecer a íntegra da reportagem.

Jorge Luiz também não quis se manifestar ao ser procurado. Disse que está “tranquilo” e “nem um pouco preocupado”.

Ao ver que o trabalho contratado não foi feito e que a convocação de Willian para a Seleção Brasileira foi pelos méritos dele, Severino, em março de 2011, requisitou os R$ 100 mil pagos, cobrando de Rubini. Recebeu dois cheques – de R$ 70 mil, para 12 de abril de 2011 e de R$ 40 mil, para 12 de maio. A diferença de R$ 10 mil era a título de correção do valor pago em novembro. Os cheques foram devolvidos pelo Bradesco por falta de fundos e se tornaram motivo da ação judicial na 9 Vara Cível do Fórum de Santana e de uma queixa criminal junto ao DEIC, ambas promovidas pelo advogado Carlos Roberto Elias.


FONTE: LANCE