Governador de Minas considera graves as falhas na operação do estádio. Já ministro do Esporte afirma que 'não há justificativa' para os transtornos
Por Lucas Catta Prêta
Belo Horizonte
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Foi como a expectativa pelo nascimento de uma criança. A gestação que foi mais longa - dois anos e meio (30 meses) -, mas o nascimento do novo Mineirão ajuda a explicar muito bem a euforia da torcida mineira pela reinauguração do estádio, no clássico que terminou com a vitória de 2 a 1 do Cruzeiro sobre o rival Atlético-MG. Mais de 60 mil torcedores comemoraram. Mas, resultado da partida à parte, nem somente de festa foi marcado o domingo. Muitos problemas, antes, durante e, sobretudo, depois da partida marcaram a primeira experiência dos mineiros no novo estádio (veja o vídeo acima). A “mãe” desse novo filho, a concessionária Minas Arena, já sentiu no bolso o peso disso tudo: foi multada em R$ 1 milhão pelo governo de Minas.
Às vésperas da partida, o prenúncio de que o domingo não seria fácil. A venda antecipada de ingressos foi marcada por problemas, com atrasos na emissão dos bilhetes, formação de longas filas e dificuldades na troca dos vouchers, impressos pela internet, pelas entradas. Isso sem falar na gafe que foi possível ver com os bilhetes em mãos, que mostravam o nome do Cruzeiro de forma errada. No sábado, um temporal que caiu em Belo Horizonte alagou o gramado. Mais tarde, após o fim da partida, foi levantada até mesmo a possibilidade de que tudo teria de ser trocado.
No Mineirão, as dificuldades só cresciam. Da chegada ao estádio, com a formação de longos engarrafamentos, à entrada pequena, com grande aglutinação das pessoas, acompanhar o clássico se mostrou uma aventura, principalmente depois que cruzados os portões do estádio. Lá dentro, a reclamação era geral sobre bares fechados e banheiros sem luz.
Isso sem falar no desespero de muitos que não conseguiam água para beber, seja nos bebedouros ou até mesmo para comprar nos poucos espaços que encontravam abertos.
Para explicar essa sucessão de erros, a concessionária do estádio, a Minas Arena, e o governo de Minas, responsável pela concessão, vieram a público nesta segunda-feira. O governador do estado, Antonio Anastasia, num pronunciamento sem direito a perguntas, falou sobre as medidas tomadas. E sobre a operação do estádio, disse que houve uma “série de erros”.
- Pedi aos torcedores um comportamento passivo, e isso aconteceu. Fizeram um belíssimo espetáculo, e os incidentes foram praticamente nenhum. Sobre a concepção, está no padrão internacional, digno dos melhores elogios. Mas tivemos uma série de equívocos, erros de operação.
O secretário da Secopa, Tiago Lacerda, enumerou os erros observados e chegou ao valor da multa estipulada.
- Por tudo que eles passaram, problema nos bares, água e alimentos, o torcedor se comportou muito bem. Identificamos algumas falhas normais, passíveis de correção, simples. Mas tivemos problemas graves. A falta de água é inaceitável. A Minas Arena está empenhada para corrigir essas falhas, e o papel da Secopa é fiscalizar a operação. Tínhamos uma equipe lá. Queremos cada vez mais que se torne um equipamento modelo. Nós vimos bares fechados, (falta de) água e, alimentação. Existem coisas aceitáveis e inaceitáveis. Percebemos algumas coisas, falta de material nos banheiros, lixeiras. Estamos montando um relatório.
Segundo Tiago Lacerda, a escolha por um clássico para reabrir o estádio não foi precipitada.
- De forma alguma. A Minas Arena garantiu que o estádio estaria em condições para o jogo.
Reação na Esplanada nos Ministérios
De Brasília, veio a reação do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que esteve no Mineirão nesse domingo. Segundo ele, "não há justificativa" que explique os problemas enfrentados pelos torcedores.
- Os novos estádios foram feitos para garantir a segurança, o conforto e o bem-estar dos torcedores. Não há justificativa para que um estádio como o novo Mineirão, que tem o que há de mais moderno em engenharia e infraestrutura esportiva, tenha falhas de operação que exponham o torcedor aos transtornos verificados – em um jogo que foi um espetáculo de futebol e uma festa para os torcidas.
O presidente do consórcio, Ricardo Barra, pediu desculpas ao torcedor. Segundo ele, dos principais problemas enfrentados, a falta de água e comida é explicada por problemas logísticos. Em tópicos, veja as explicações da Minas Arena.
Bares
Foram problemas logísticos, de locomoção de um bar para o outro. Isso acarretou essa falta. É um problema que está corrigido, e detectamos os pontos. Nenhum problema de alvará. A Vigilância Sanitária liberou todos os bares.
Gramado
A drenagem está adequada à finalidade que se presta. As chuvas de sábado foram atípicas, fora do padrão. Não vemos nenhum problema na drenagem. Não há nenhuma previsão de troca de gramado.
Abertura do estacionamento
Os portões foram abertos dez minutos depois do previsto, às 14h10m. Não poderíamos ter aberto antes, porque os estacionamentos dão acesso ao estádio.
Água
O que houve foi uma bomba que não funcionou corretamente. Ela não armou, e com isso a grande quantidade de água usada no momento não conseguiu atender o estádio.
Banheiros
A falta de papel higiênico não é aceitável.
Ingressos
Houve lentidão no sistema. Enquanto um sistema processava, outro torcedor entrava e comprava, o que gerou a duplicidade de ingressos. Mas resolvemos isso, e alguns torcedores até foram acomodados em lugares melhores.
fonte: globo