Uma questão interna da diretoria do São Paulo foi parar na Justiça na semana passada. A diretora Feminina, Mara Casares, é acusada de trocar a reativação de um título do clube por favores pessoais, além de ser ainda apontada como dona de negócios no Morumbi, com lucros que passariam de R$ 2 milhões.
A história envolve uma ex-assessora do departamento, a advogada Maria Isabel Gusman, a autora do processo, agora nas mãos do juiz Régis Rodrigo Bonvicino.
A versão por ela contada envolve uma série de capítulos, desde 2011, até o corrente mês, que será contada abaixo, de forma resumida, mas respeitando rigorosamente as palavras utilizadas no processo. O pedido é de uma indenização de R$ 138 mil.
Antes, vale esclarecer que o São Paulo foi procurado para comentar a matéria e respondeu que não vai se posicionar já que a questão também gerou a abertura de um processo interno na Comissão de Ética e só esta poderá se pronunciar ao fim da investigação.
Mara Casares, por sua vez, disse que "esta sócia em referência [Maria Isabel Gusman], está suspensa preventivamente do clube, com processo na Comissão de ética. Quanto as injúrias, calúnias e difamação, responderá na Justiça através de medidas cabíveis".
1) O mais recente dos episódios foi a suspensão de Maria Isabel, ordenada por Mara Casares, por divergências, segundo Isabel, políticas internas. De acordo com a ação, Isabel foi punida após ter apontado que um dos tabuladores dos votos na eleição passada era sobrinho de Mara Casares. Uma "tentativa [por parte do São Paulo e da diretoria] de restringir a liberdade de expressão que a democracia proporciona".
2) Como tudo começou, em 2011: as duas se conheceram em uma delegacia de polícia, quando Mara teria oferecido a reativação do título de Maria Isabel em troca de um favor pessoal: sua defesa na briga contra uma empregada doméstica [Mara teria mentido sobre ter câmeras em casa para provar o roubou da funcionária].
3) Em fevereiro de 2012: Mara apresentou a gerente social do clube, Dona Darcilene, para Maria Isabel, justamente quem poderia vivificar o título familiar inativo. Antes de voltar a frequentar o Morumbi, Maria Isabel ouviu um segundo pedido: de tirar da prisão o sobrinho da Dona Darcilene. O combinado era: "você advoga para soltá-lo e qualquer valor que se sobreponha ao que já estou te devendo [pelo caso da empregada], fica automaticamente quitado, pois o título aqui é caríssimo, custará R$ 40 mil a partir das eleições", segundo consta no processo.
4) O título foi reemitido, mesmo momento em que o sobrinho da família Casares estava livre após uma audiência realizada [Maria Isabel fez até visita a ele numa prisão].
5) A partir daí, outros vários favores foram pedidos por Mara para Maria Isabel, todos realizados sem custo: advogar para ajuste de dívidas deixadas pelo pai de Mara, falecido, em Natal; um imbróglio com o filho de Mara no Canadá; a tratativa da remoção de hospital da irmã de Mara.
6) Em março de 2014: Maria Isabel foi procurada por Mara para ocupar o cargo de assessora jurídica da Diretoria Feminina. Realizou algumas coisas relacionadas à pasta: Estatuto das Mulheres Tricolores, Regulamento e Normas de Segurança para o Berçário e Vestiário Infantil, Carta de Convite ao Padre Marcelo Rossi e a página no Facebook.
7) Segundo Maria Isabel, ela foi chamada para o cargo para ajudar Mara "através dos seus serviços advocatícios, para beneficiar e pagar favores". Nesse tempo teria feito "favores" para as seguintes pessoas: a gerente social do clube, a babá dos filhos de Mara, a diretora adjunta do berçário, um segurança do clube, a diretora adjunta de eventos, o marido da costureira de Mara, o cabeleireiro do Morumbi, Rodrigo, entre outros.
8) Maria Isabel diz que trabalhou para fazer um contrato de gaveta entre Mara e sua babá, relativo a dois apartamentos em nome da babá, porém de propriedade de Mara.
9) Sobre a questão do salão de beleza do Morumbi, há mais acusações: Mara pediu para afastar uma caixa do estabelecimento, a Nany. Ela foi demitida da função, recebeu um cheque de Rodrigo, tudo a mando de Mara, e passou a ocupar um cargo na diretoria Feminina.
10) Maria Isabel acusa também que Rodrigo quase comprou o carro de sua mãe, mas foi impedido por Mara de fazê-lo. Como forma de ressarcimento, Mara fez Rodrigo pagar 2 mil para a mãe de Maria Isabel, lançando como saída do salão de beleza do clube.
11) Considerada como GOTA D'AGUA: teve de expulsar a esteticista estabelecida no SPFC para que o cabeleireiro Rodrigo assumisse. Maria Isabel teve de buscar com a gerente social as cópias dos acordos entre a esteticista Dona Rosada e o SPFC.
12) Neste momento, no processo, Maria Isabel coloca Mara como suspeita de ganhar R$ 2 milhões com os negócios internos, tal e qual fazia "Juvenal", ex-presidente do clube, sem especificar quem além da diretora. E que haveria algumas comissões partilhadas através de convites para festas, gorjetas e presentinhos.
13) Maria Isabel ainda recebeu a ordem de ficar calada sobre o assunto e não responder nenhuma reclamação no Facebook da diretoria. Passado tudo isso, Maria Isabel percebeu que estava correndo o risco de cair em empreendimento criminoso e decidiu se afastar.
14) Nesse momento, do afastamento, ouviu da Mara que estava "amarelando" e que não era "tão competente assim". Em resposta, ainda neste momento, Maria Isabel acusou Mara de ser dona do salão, de forma oculta, como retrata a reprodução do processo, ao final da página.
15) Maria Isabel acusa Mara de ter invadido a casa de sua mãe, ao perceber que a relação havia de fato se rompido. O episódio virou uma outra ação na justiça, essa criminal, para apuração de crimes praticados de ameaça e invasão de domicílio, que está sob segredo de justiça. Maria Isabel diz que desde deste episódio sua mãe ficou com pânico e não pode mais ficar sozinha, a impedindo de trabalhar.
16) Isabel ainda conta que houve mais uma tentativa de invasão à sua casa neste mês.
17) Sobre a responsabilidade do clube, Maria Isabel argumenta que contou tudo isso para o atual presidente, Carlos Miguel Aidar, que nada fez. E mais: contrapôs a suspendendo. Maria Isabel quer a decretação de responsabilidade civil do clube por atos de má fé praticados pela diretora.
18) O pedido de indenização é de R$ 138 mil, pelos serviços advocatícios, pelo valor do título e por dano moral.
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