quarta-feira, 6 de abril de 2011

'Jogador de xadrez', Mano afirma ter estratégia para aproveitar jovens

Técnico diz que Pato pode ser o camisa 9 da Seleção, não descarta time com três atacantes e afirma que não há pressão sobre peso de Ronaldo

Por GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro

Como um jogador de xadrez, o técnico Mano Menezes montou uma estratégia: unir um grupo de atletas experientes a revelações do futebol brasileiro para formar a Seleção que irá disputar a Copa do Mundo em casa em 2014. Em longa entrevista à Rádio Globo nesta terça-feira, o treinador elogiou a nova safra e disse que Ganso, Neymar, Lucas & cia. estão no caminho para uma longa vida com a camisa amarelinha.

- Não jogo pôquer, mas jogo xadrez. Uma boa estratégia é importante para aproveitar muito bem essa nova condição de talento que o futebol brasileiro nos brinda nesse momento. Temos uma grande condição de formar uma Seleção. Vai se juntando, a uma ideia inicial, de reunir jovens talentos com jogadores com uma maior trajetória na Seleção. Tem de saber conduzir para que as coisas não sejam atropeladas desnecessariamente. Penso que estamos no caminho, e eles vão ter uma grande trajetória na Seleção Brasileira.

Mano Menezes rádio o Globo (Foto: Site Oficial)
Mano Menezes participa de programa na Rádio Globo, no Rio de Janeiro (Foto: Site da Rádio Globo)

Durante a entrevista, Mano elogiou ainda a boa fase de Alexandre Pato, que brilhou na vitória do Milan sobre o Inter de Milão no último sábado e se apresenta como principal favorito para ser dono da camisa 9. O técnico disse ainda que não descarta escalar a Seleção com três atacantes, tendo Neymar e Robinho juntos na frente, e que não haverá surpresas na convocação para a Copa América.

Brincando, o treinador chamou Ronaldo de "gordinho" e afirmou que não há pressão para o Fenômeno perder peso para a despedida no dia 7 de junho contra a Romênia. Confira abaixo alguns trechos da entrevista de Mano:

Nova geração
Não jogo pôquer, mas jogo xadrez. Uma boa estratégia é importante para aproveitar muito bem essa nova condição de talento que o futebol brasileiro nos brinda nesse momento. Temos uma grande condição de formar uma Seleção. Vai se juntando, a uma ideia inicial, de reunir jovens talentos com jogadores com uma maior trajetória na Seleção. Tem de saber conduzir para que as coisas não sejam atropeladas desnecessariamente. Penso que estamos no caminho, e eles vão ter uma grande trajetória na Seleção Brasileira.

Lucas e Ganso juntos?
Não consigo imaginar (os dois juntos com apenas um volante). Ainda não. Penso que, com essa formação, o Lucas teria de jogar um pouco mais à frente. Com dois volantes, será um meio de campo muito provável. A Seleção Brasileira vai ter essa postura, mas é claro que os nomes podem variar um pouquinho.

Olimpíadas
Nós temos uma geração que já vem se destacando muito e já vai ter idade para jogar em Londres. Neymar, Lucas, Ganso, Sandro... Temos uma grande oportunidade de fazer uma grande Seleção. No nosso planejamento, é uma das grandes prioridades. É exatamente no meio do trabalho, e a chance de conquistar uma medalha. Confirmando essa expectativa que se tem sobre eles, vão estar assinando uma possibilidade de estar na Copa de 2014.

Neymar e Lucas comemoram o títulodo Brasil sub 20 (Foto: Mowa Press)Campeões do Sul-Americano Sub-20, Lucas e Neymar já ganharam chance com Mano (Foto: Mowa Press)

Diferença de pressão em clube e Seleção
(Em clubes) é mais desgastante porque precisa jogar duas vezes por semana e sempre apresentar bons resultados. A Seleção também precisa de resultados, mas tem condição de fazer um planejamento maior, com amistosos de 30 em 30 dias e o fato de poder escolher os jogadores adequados. A desvantagem é que não tem tempo para treinar para esses jogos. Na Seleção, só se consegue trabalhar detalhes quando reunir para uma competição de maior duração. Não posso reclamar dos meus últimos clubes (Grêmio e Corinthians). Foram três anos de trabalho em cada. Acompanhei a situação do Geninho, que já foi campeão pelo Atlético-PR, e não teve condições de trabalhar mais de 10 jogos. É certamente decepcionante

Despedida de Ronaldo
Nunca sofri pressão para colocar o gordinho para jogar (no Corinthians), até porque eu o colocava para jogar sempre. Também vou colocá-lo para jogar contra a Romênia. Quando a gente convida alguém para sua casa, tem de tratar bem. A Seleção também já foi a casa dele e vamos homenageá-lo. Agora não cabe cobrança sobre o peso.

Boa fase de Pato
Pato fez na Seleção na maioria dos jogos aquilo que ele tem feito no Milan, mas, claro, com um posicionamento um pouco diferente. O que deixou bem claro (a vitória do Milan sobre o Inter) é que o Pato pode ser o camisa 9 da Seleção. Discutiu-se muito apos o jogo contra a França, que ele não poderia ser o principal centroavante. Não é que o Pato não tenha essa condição de ser o principal atacante. Não peço a ele que jogue de costas. Até porque é difícil marcar gol de costas para o gol. O que me deixou feliz no jogo (Milan x Inter) é ver atacantes brasileiros assumindo essa condição de serem novamente protagonistas nos grandes jogos.

Marcelo bem no Real Madrid
Não sei a maneira como vou abordar isso, porque não tenho todos os dados e posso cometer uma injustiça. O Marcelo também não jogou pelo Real Madrid no final de semana. Existem jogadores que são mais sensíveis a essas condições. Existem jogadores que superam mais a dor. Isso é muito pessoal. Cabe ao técnico escolher. Nos ainda não temos na posição, depois da saída do Roberto Carlos, um nome de unanimidade na lateral. Foi uma condição de treinamento. Ele iria iniciar a partida, teria uma sequencia maior, assim como foi feito com o André Santos. Uns vão com uma condição maior de dor para o jogo, outros não. Você precisa analisar isso e escolher o que é melhor pra você.

adriano apresentação corinthians (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
No Corinthians, Adriano terá que conquistar Mano
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

Adriano
Quando iniciamos o trabalho, fui bastante claro que não estava excluindo ninguém da Seleção. O que acho, é que temos que tomar um pouco de cuidado para não ficarmos batendo sempre nos mesmo nomes como possíveis soluções para a Seleção. Sempre se fala do Ronaldinho, do Kaká, do Adriano. O que estou fazendo de prático é encontrar novos nomes para a Seleção para serem comparados a esses nomes. O histórico mostra que a recuperação pode não acontecer e eles não voltarem à Seleção. Por isso, é importante escolher novos nomes para serem comparados. É preciso estabelecer prioridades nas etapas. Mais para frente, podemos comparar os jogadores e definir os nomes que vão fazer parte do grupo da Seleção principal. Todos os jogadores que estiveram bem tem chances na Seleção. Acredito nas pessoas. Depende dele. Não pode é viver no discurso, na promessa. Tem de encarar a realidade dura. E a realidade dura do futebol é trabalhar todos os dias, treinar. O considero um jogador diferenciado

Robinho
Eu tenho tido muito poucos problemas de relacionamento nesses sete anos, considerando o trabalho desde 2005, quando assumi pela primeira vez um clube de ponta. Porque minhas conversas são claras e objetivas. O jogador precisa entender o propósito que o técnico tem e entender o momento que ele está atravessando. Vai ser assim com o Robinho também. Não quer dizer que o Robinho será reserva. Aliás, ele está vindo de um grande jogo (contra o Inter de Milão). Nós o deixamos de fora realmente porque ele vinha de uma sequência grande de jogos. Penso nele para a Copa América, penso que ele é útil para a Seleção. A questão da titularidade vai depender da produção que ele tiver no momento, e da maneira que montarmos o time taticamente. Já montei o time com Neymar e Robinho juntos, contra os Estados Unidos. Pode ser que lá na frente eu tenha que optar por Neymar ou Robinho. Aí vamos escolher quem estiver melhor. A Seleção é muito maior que essa situação.

Kaká
O Kaká não vem sendo o jogador que vinha sendo, até porque nem sequer está jogando no Real Madrid. Ele tem uma noção muito clara porque tive uma conversa com ele e coloquei a minha posição e ouvi a dele. E as idéias convergem. Para ele estar na Seleção precisa estar muito bem. Não e um jogador que está recebendo uma oportunidade pela primeira vez.

Três atacantes
É possível jogar dessa maneira. No Campeonato Italiano, que é um dos mais disputados, você vê o Milan sendo montando muitas vezes com Pato, Ibrahimovic e o Robinho quase como armador. É preciso tem um jogador com característica um pouco maior de recomposição, mas é possível jogar desse jeito.

Derrotas para Argentina e França
Eu não tive dificuldades para dormir. Trabalho muito antes de cada jogo para fazer o melhor papel de técnico. O que me tira a condição de tranquilidade é o fato de perder quando se pode ganhar. Às vezes se perde porque o adversário foi melhor. O jogo contra a Argentina tinha acabado quando sofremos o gol. Não jogamos menos do que a Argentina. Aliás, jogamos mais do que eles no segundo tempo. Diante da França, o Brasil tinha o jogo absolutamente controlado até o Hernanes ser expulso no primeiro tempo. Fico chateado, porque sei que o resultado é uma parte importante do trabalho. Não se pode abrir mão de buscar a vitória. Estava ali uma oportunidade de desmanchar números negativos contra a França. O resultado vem sendo negativo, mas vem sendo jogado por jogadores diferentes, por outros grupos. O resultado é importante para conseguir o respeito dos adversários. Mas o Brasil não jogou menos contra esses dois adversários. Não me tirou o sono porque, pelo o que vi dentro do campo, nos dá uma condição melhor mais para a frente

Convocação da Copa América
Dificilmente terá um nome novo, totalmente novo. Provavelmente vão aqueles jogadores que fizeram parte do trabalho até aqui, com raríssimas exceções. Se não acontecer nada de extraordinário, vai ser esse grupo que vem jogando
fonte: globo