segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Londres, dia 16: as Olimpíadas do Rio começam com Yane Marques


Última medalha das Olimpíadas de 2012, antecessoras dos Jogos do Rio, vai para brasileira do pentatlo. Vôlei masculino fica com a prata

Por Alexandre Alliatti
Rio de Janeiro
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Yane Marques pentatlo (Foto: Divulgação)
Yane Marques mantém regularidade nas diferentes
modalidades e é bronze (Foto: Divulgação)
Existe um simbolismo, desses que as Olimpíadas adoram, em uma brasileira ser a última pessoa a assegurar uma medalha nos Jogos de Londres. Quando Yane Marques se aproximou da linha final do pentatlo moderno, neste domingo, restava apenas o bronze daquela prova em disputa. Era o último ato. E a medalha foi dela, uma brasileira. É como se a edição de 2012 passasse o bastão olímpico para um novo ciclo, agora com foco no Brasil. É como se Yane deixasse seu agradecimento aos britânicos no mesmo instante em que já avisava que agora a parada está conosco. É como se ela dissesse ao mundo aquela frase tão bonita, nome de filme e inscrição de um cemitério no interior paulista: nós que aqui estamos por vós esperamos.
Dentro de quatro anos, nós que aqui estamos receberemos o universo olímpico. E esperançosos de conquistar mais do que as 17 medalhas de Londres - o recorde do país em Jogos. O último dia de competições rendeu mais dois pódios aos atletas verde-amarelos: o bronze de Yane e a prata da seleção masculina de vôlei, derrotada pela Rússia por 3 sets a 2, em uma virada assombrosa.
Foram três medalhas de ouro (Sarah Menezes, Arthur Zanetti e seleção feminina de vôlei), cinco de prata (Thiago Pereira, Alison e Emanuel, futebol masculino, Esquiva Falcão e seleção masculina de vôlei) e nove de bronze (Felipe Kitadai, Mayra Aguiar, Rafael Silva, Cesar Cielo, Adriana Araújo, Robert Scheidt e Bruno Prada, Juliana e Larissa, Yamaguchi Falcão e Yana Marques). O Brasil ficou com a 22ª colocação no quadro geral. Os Estados Unidos foram os maiores medalhistas dos Jogos, com 104 (46 de ouro), seguidos pela China, com 87 (38 douradas).
Yane, medalha de Bronze no Pentatlo (Foto: AFP)Brasileira, saída do sertão, sobe ao pódio do pentatlo com lituana e britânica (Foto: AFP)
Uma sertaneja
Está lá, perdido no meio do "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa: "Sertanejos, mire e veja: o sertão é uma espera enorme". Foram necessários 100 anos para que o Brasil ganhasse sua primeira medalha no pentatlo - e para que muitos descobrissem a existência do esporte, presente nos Jogos pela primeira vez em 1912. A espera enorme terminou por causa de uma sertaneja. Yane Marques nasceu em Afogados da Ingazeira, cidade de 35 mil habitantes no sertão pernambucano. Colocou sua cidade e seu esporte no mapa.
No início do dia, o pentatlo era um esporte escondido para os brasileiros. Yane, prova a prova, foi mudando isso. Sexto lugar na esgrima, sexto lugar na natação, nono lugar no hipismo. Faltava a etapa combinada, com corrida e tiro, e ela estava na liderança. A medalha passava a ser uma realidade.
Na prova final, a brasileira largou bem, foi a primeira a acertar os três tiros, mas acabou alcançada na corrida pela lituana Laura Asadauskaite. Na última volta, também foi ultrapassada pela britânica Samantha Murray. Nos metros finais, chegou a ser ameaçada pela americana Margaux Isaksen. Estava esgotada. Mas resistiu. Assim que cruzou a linha, desabou no chão. Fez lembrar outro livro, "Os sertões", de Euclides da Cunha, que diz: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte."
Caça e caçador
Bruninho na partida de vôlei do Brasil contra a Rússia (Foto: AFP)
Bruninho desolado contra a Rússia: virada na final
machuca atletas (Foto: AFP)
Um dia foi da caça. E outro foi do caçador. No vôlei feminino, a Rússia teve seis match points contra o Brasil nas quartas de final. As meninas salvaram todos. Viraram o jogo. E ganharam o ouro duas partidas depois. O oposto aconteceu neste domingo com o vôlei masculino.
Desta vez, quem esteve com o jogo na mão foi o Brasil. A vantagem chegou a estar em 21/18. Foram dois match points para vencer o jogo por 3 sets a 0. E a Rússia empatou. Virou. Renasceu.
O quarto set já mostrou um Brasil menos equilibrado - pesou a lesão sofrida por Dante. O jogo começou a dar sinais de vitória russa. E o tie-break confirmou: 15 a 9, em uma atuação impressionante do time adversário. Dmitriy Muserskiy, de 2,18m, fez 31 pontos. Foi "imparável".
É a primeira medalha de ouro da Rússia no vôlei como país independente (depois do fim da União Soviética). O Brasil disputou sua terceira final seguida. Foi ouro em Atenas 2004 e prata em Pequim 2008.
Brasileiros vão bem na maratona
Marilson dos Santos no final da maratona das Olimpíadas (Foto: AFP)
Marilson esgotado depois da quinta colocação na
maratona(Foto: AFP)
A prova mais tradicional do último dia das Olimpíadas teve bom desempenho dos brasileiros. Três figuraram entre os 13 primeiros da maratona. O melhor deles foi Marilson Gomes dos Santos, quinto colocado. O atleta chegou esgotado ao fim da prova, que ele classificou como a mais desgastante de sua vida. Precisou de 2h11m10 para completá-la.
Paulo Roberto Paula ficou com a oitava posição (2h12s17). Frank Caldeira fez o 13º melhor tempo (2h13m35). O vencedor foi Stephen Kiprotich, de Uganda, em 2h08m01. A prata e o bronze foram para os quenianos Abel Kirui (2h08m27) e Wilson Kiprotich (2h09m37).
A organização dos Jogos de Londres decidiu romper a tradição de os atletas chegarem ao Estádio Olímpico nos metros finais da prova. Desta vez, a fita foi colocada em The Mall, rua próxima ao Palácio de Buckingham. O percurso privilegiou pontos turísticos da cidade - casos de Big Ben, London Eye, Catedral de St.Paul e Tower Bridge.
O último atleta a completar a prova foi Tsepo Ramonene, do Lesoto. Ele chegou 11 minutos depois do penúltimo e quase 50 minutos após o campeão. Foi muito aplaudido pelo público e despencou no chão assim que cruzou a linha - exaurido.
Tsepo Ramonene maratona Olimpíadas 2012 (Foto: AP)Tsepo Ramonene, do Lesoto, é o último a completar a maratona nas Olimpíadas de 2012 (Foto: AP)
As últimas medalhas
O domingo teve outras medalhas distribuídas. No ciclismo, o tcheco Jaroslav Kulhavy ficou com o ouro na disputa de moutain bike com o tempo de 1h29m07s. O suíço Nino Schurter chegou um segundo depois. O brasileiro Rubens Valeriano foi o 24º.
A França foi bicampeã no handebol masculino. Venceu a Suécia por 22 a 21. O bronze ficou com a Croácia. Na comemoração, no pódio, os vencedores imitaram o gesto tradicional de Usain Bolt - a simulação de um raio.
França comemoração handebol olimpíadas (Foto: Reuters)Franceses do handebol imitam gesto de Usain Bolt ao comemorar o ouro (Foto: Reuters)
Mas os olhos do público olímpico estiveram voltados mesmo para o basquete. A Espanha até que complicou o jogo, mas não teve jeito de evitar novo título americano. Os Estados Unidos venceram por 107 a 100. Assim, conquistaram seu 14º ouro olímpico - uma rotina repetida a cada quatro anos, e que em 2016 vai desembarcar nos Jogos do Rio, aqueles que de certa forma começaram neste domingo, com Yane Marques recebendo uma medalha que também foi passagem de bastão.
Kevin Durant e LeBron James comemoram vitória no basquete (Foto: AFP)Kevin Durant e LeBron James se abraçam: mais um ouro para os americanos no basquete (Foto: AFP)fonte: globo