Última medalha das Olimpíadas de 2012, antecessoras dos Jogos do Rio, vai para brasileira do pentatlo. Vôlei masculino fica com a prata
Por Alexandre Alliatti
Rio de Janeiro
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Existe um simbolismo, desses que as Olimpíadas adoram, em uma brasileira ser a última pessoa a assegurar uma medalha nos Jogos de Londres. Quando Yane Marques se aproximou da linha final do pentatlo moderno, neste domingo, restava apenas o bronze daquela prova em disputa. Era o último ato. E a medalha foi dela, uma brasileira. É como se a edição de 2012 passasse o bastão olímpico para um novo ciclo, agora com foco no Brasil. É como se Yane deixasse seu agradecimento aos britânicos no mesmo instante em que já avisava que agora a parada está conosco. É como se ela dissesse ao mundo aquela frase tão bonita, nome de filme e inscrição de um cemitério no interior paulista: nós que aqui estamos por vós esperamos.
Dentro de quatro anos, nós que aqui estamos receberemos o universo olímpico. E esperançosos de conquistar mais do que as 17 medalhas de Londres - o recorde do país em Jogos. O último dia de competições rendeu mais dois pódios aos atletas verde-amarelos: o bronze de Yane e a prata da seleção masculina de vôlei, derrotada pela Rússia por 3 sets a 2, em uma virada assombrosa.
Foram três medalhas de ouro (Sarah Menezes, Arthur Zanetti e seleção feminina de vôlei), cinco de prata (Thiago Pereira, Alison e Emanuel, futebol masculino, Esquiva Falcão e seleção masculina de vôlei) e nove de bronze (Felipe Kitadai, Mayra Aguiar, Rafael Silva, Cesar Cielo, Adriana Araújo, Robert Scheidt e Bruno Prada, Juliana e Larissa, Yamaguchi Falcão e Yana Marques). O Brasil ficou com a 22ª colocação no quadro geral. Os Estados Unidos foram os maiores medalhistas dos Jogos, com 104 (46 de ouro), seguidos pela China, com 87 (38 douradas).
Uma sertaneja
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Está lá, perdido no meio do "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa: "Sertanejos, mire e veja: o sertão é uma espera enorme". Foram necessários 100 anos para que o Brasil ganhasse sua primeira medalha no pentatlo - e para que muitos descobrissem a existência do esporte, presente nos Jogos pela primeira vez em 1912. A espera enorme terminou por causa de uma sertaneja. Yane Marques nasceu em Afogados da Ingazeira, cidade de 35 mil habitantes no sertão pernambucano. Colocou sua cidade e seu esporte no mapa.
No início do dia, o pentatlo era um esporte escondido para os brasileiros. Yane, prova a prova, foi mudando isso. Sexto lugar na esgrima, sexto lugar na natação, nono lugar no hipismo. Faltava a etapa combinada, com corrida e tiro, e ela estava na liderança. A medalha passava a ser uma realidade.
Na prova final, a brasileira largou bem, foi a primeira a acertar os três tiros, mas acabou alcançada na corrida pela lituana Laura Asadauskaite. Na última volta, também foi ultrapassada pela britânica Samantha Murray. Nos metros finais, chegou a ser ameaçada pela americana Margaux Isaksen. Estava esgotada. Mas resistiu. Assim que cruzou a linha, desabou no chão. Fez lembrar outro livro, "Os sertões", de Euclides da Cunha, que diz: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte."
Caça e caçador
Um dia foi da caça. E outro foi do caçador. No vôlei feminino, a Rússia teve seis match points contra o Brasil nas quartas de final. As meninas salvaram todos. Viraram o jogo. E ganharam o ouro duas partidas depois. O oposto aconteceu neste domingo com o vôlei masculino.
Desta vez, quem esteve com o jogo na mão foi o Brasil. A vantagem chegou a estar em 21/18. Foram dois match points para vencer o jogo por 3 sets a 0. E a Rússia empatou. Virou. Renasceu.
O quarto set já mostrou um Brasil menos equilibrado - pesou a lesão sofrida por Dante. O jogo começou a dar sinais de vitória russa. E o tie-break confirmou: 15 a 9, em uma atuação impressionante do time adversário. Dmitriy Muserskiy, de 2,18m, fez 31 pontos. Foi "imparável".
É a primeira medalha de ouro da Rússia no vôlei como país independente (depois do fim da União Soviética). O Brasil disputou sua terceira final seguida. Foi ouro em Atenas 2004 e prata em Pequim 2008.
Brasileiros vão bem na maratona
A prova mais tradicional do último dia das Olimpíadas teve bom desempenho dos brasileiros. Três figuraram entre os 13 primeiros da maratona. O melhor deles foi Marilson Gomes dos Santos, quinto colocado. O atleta chegou esgotado ao fim da prova, que ele classificou como a mais desgastante de sua vida. Precisou de 2h11m10 para completá-la.
Paulo Roberto Paula ficou com a oitava posição (2h12s17). Frank Caldeira fez o 13º melhor tempo (2h13m35). O vencedor foi Stephen Kiprotich, de Uganda, em 2h08m01. A prata e o bronze foram para os quenianos Abel Kirui (2h08m27) e Wilson Kiprotich (2h09m37).
A organização dos Jogos de Londres decidiu romper a tradição de os atletas chegarem ao Estádio Olímpico nos metros finais da prova. Desta vez, a fita foi colocada em The Mall, rua próxima ao Palácio de Buckingham. O percurso privilegiou pontos turísticos da cidade - casos de Big Ben, London Eye, Catedral de St.Paul e Tower Bridge.
O último atleta a completar a prova foi Tsepo Ramonene, do Lesoto. Ele chegou 11 minutos depois do penúltimo e quase 50 minutos após o campeão. Foi muito aplaudido pelo público e despencou no chão assim que cruzou a linha - exaurido.
As últimas medalhas
O domingo teve outras medalhas distribuídas. No ciclismo, o tcheco Jaroslav Kulhavy ficou com o ouro na disputa de moutain bike com o tempo de 1h29m07s. O suíço Nino Schurter chegou um segundo depois. O brasileiro Rubens Valeriano foi o 24º.
A França foi bicampeã no handebol masculino. Venceu a Suécia por 22 a 21. O bronze ficou com a Croácia. Na comemoração, no pódio, os vencedores imitaram o gesto tradicional de Usain Bolt - a simulação de um raio.
Mas os olhos do público olímpico estiveram voltados mesmo para o basquete. A Espanha até que complicou o jogo, mas não teve jeito de evitar novo título americano. Os Estados Unidos venceram por 107 a 100. Assim, conquistaram seu 14º ouro olímpico - uma rotina repetida a cada quatro anos, e que em 2016 vai desembarcar nos Jogos do Rio, aqueles que de certa forma começaram neste domingo, com Yane Marques recebendo uma medalha que também foi passagem de bastão.