Delegação verde-amarela disputa apenas três finais: 'Nossa participação foi de regular para menos', diz Martinho Nobre, superintendente da CBAt
Por GLOBOESPORTE.COM
Londres, Inglaterra
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A expectativa era grande. A delegação do atletismo brasileiro em Londres apresentava um título olímpico e dois mundiais (um indoor) no cartão de visitas. Contava com 36 atletas que haviam superado índices mais rígidos do que aqueles impostos pela Federação Internacional de Atletismo (Iaaf) aos adversários de outros países. Só não contava que deixaria a capital britânica sem medalha na bagagem. Menos ainda, que somaria apenas três participações em finais, além de um bom desempenho geral na maratona masculina.
Esta é a primeira vez desde os Jogos de Barcelona, em 1992, que o atletismo verde-amarelo volta para casa sem ter subido ao pódio. Antes da edição espanhola, a delegação não passava em branco desde 1964, em Tóquio.
- Alguns atletas foram bem, como a Rosângela e a Geisa. Já outros chegaram com uma expectativa maior, como o Fabiana, a Maurren e o Duda. Eu acho que a nossa participação foi de regular para menos. Todo o apoio que os treinadores pediram, inclusive de treinamentos no exterior, a Confederação e o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) deram. Agora, é chegar ao Brasil e conversar com todo mundo para saber o que deu errado e fazer um novo planejamento - disse Martinho Nobre dos Santos, superintendente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
Apesar dos fracos resultados, a expectativa para os Jogos no Rio de Janeiro, daqui a quatro anos, é otimista.
- Esperamos um desempenho melhor no Rio, passando por dois campeonatos mundiais e os Jogos Pan-Americanos. Temos uma garotada nova que pode fazer bonito em 2016. Mas para isso temos que trabalhar duro, e sem desvio até lá - acrescentou Martinho.
O Brasil foi a Londres com uma delegação menor do que em Pequim (45 a 36). Para tentar aumentar o nível competitivo dos atletas e o número de participações em finais, a CBAt decidiu estabelecer um índice classificatório mais forte do que o da Iaaf. Assim, a equipe técnica da entidade calculou uma média do resultado do 12º colocado nas três últimas grandes competições (Olimpíadas de 2008 e Mundiais de Berlim e Daegu, em 2009 e 2011).
O objetivo era transformar quantidade em qualidade, mas o resultado não foi exatamente o esperado. Na China, o país teve seis finalistas: os revezamentos 4x100m masculino e feminino, Keila Costa e Maurren Maggi no salto em distância, Jadel Gregório no salto triplo e Fabiana Murer no salto com vara. Na Inglaterra, foram cinco semifinalistas e três finalistas: o revezamento 4x100m feminino, Mauro Vinícius da Silva no salto em distância e Geisa Arcanjo no arremesso de peso.
- O que faltou e tem faltado é esporte de base. Nossa mina está secando porque não fizemos nenhum trabalho. Desde quando o Rio de Janeiro foi anunciado como sede olímpica, há dois anos, os políticos conversam, debatem, mas nada é feito para consertar o esporte de base. Fica dificil transformar a quantidade em qualidade da noite para o dia. Nós temos um problema seriíssimo – disse Joaquim Cruz, campeão olímpico em 1980, em entrevista aoSporTV.
O desempenho na maratona, porém, foi digno de elogios. Mesmo sem medalha, os três representantes verde-amarelos chegaram nas 15 primeiras posições: Marílson dos Santos foi quinto, Paulo Roberto de Almeida ficou em oitavo, e Franck Caldeira, o 13º colocado.
Saltos vão de maior esperança a principal decepção
As medalhas do atletismo brasileiro em Olimpíadas | |
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Edição | Medalha, modalidade e atleta |
Helsinque-1952 | Ouro - salto triplo - Adhemar Ferreira |
Bronze - salto em altura - José Telles Conceição | |
Melbourne-1956 | Ouro - salto triplo - Adhemar Ferreira |
Cidade do México- 1968 | Prata - salto triplo - Nelson Prudêncio |
Munique-1972 | Bronze - salto triplo - Nelson Prudêncio |
Montreal-1976 | Bronze - salto triplo - João Carlos de Oliveira |
Moscou-1980 | Bronze - salto triplo - João Carlos de Oliveira |
Los Angeles-1984 | Ouro - 800m - Joaquim Cruz |
Seul-1988 | Prata - 800m - Joaquim Cruz |
Bronze - 200m - Robson Caetano | |
Atlanta-1996 | Bronze - revezamento 4x100m (André Domingos, Arnaldo de Oliveira, Edson Ribeiro e Robson Caetano) |
Sydney-2000 | Prata - revezamento 4x100m (André Domingos, Claudinei Quirino, Edson Ribeiro e Vicente Lenílson) |
Atenas-2004 | Bronze - maratona - Vanderlei Cordeiro de Lima |
Pequim-2008 | Ouro - salto em distância - Maurren Maggi |
A maior esperança, e, consequentemente, a principal decepção foi o desempenho de Fabiana Murer. Campeã mundial indoor em Doha (2010) e do Mundial em Daegu (2011), a paulista era apontada como a principal adversária da recordista mundial Yelena Isinbayeva na briga pelo ouro. A russa não conquistou o tricampeonato, mas a brasileira deixou a disputa ainda na fase classificatória. Murer acertou apenas um salto a 4,50m. Com o sarrafo cinco centímetros mais alto, falhou em duas tentativas. Na terceira e última chance, com o vento desfavorável, desistiu no meio da corrida e levou a bandeira amarela. Era tudo ou nada. No meio da série de passadas, mais uma vez, parou. Levou a bandeira vermelha e foi eliminada.
Maurren Maggi, que defendia o título olímpico no salto em distância, também não ficou entre as 12 finalistas. Deixou a pista do Estádio Olímpico de Londres em 15º lugar pelos 6,37m que alcançou na primeira tentativa – queimou a segunda e fez 6,27m na terceira.Keila Costa e Jonathan Henrique Silva também pararam nas eliminatórias.
Campeão mundial indoor em Istambul, na Turquia, em março, Mauro Vinícius da Silva não chegou perto do pódio, mas foi o único saltador brasileiro a alcançar uma final individual. Melhor atleta na fase de classificação, com 8,11m, Duda, como é conhecido, alcançou 8,01m na fase decisiva, ficando em sétimo lugar, a 11cm do pódio.
Revezamentos deixam a desejar, enquanto maratona e arremesso surpreendem
Os dois revezamentos 4x100m do Brasil eram considerados azarões. Seria preciso um dia iluminado, com passagens de bastão perfeitas para sonhar com um bronze. Bons desempenhos em provas individuais até animaram. No feminino, Rosângela Santose Evelyn dos Santos foram semifinalistas nos 100m e 200m. Entre os homens,Aldemir Gomes e Bruno Lins também foram às semis dos 200m.
Os quartetos, porém, não repetiram o desempenho de edições anteriores. O masculino sequer foi à final. As mulheres até avançaram, mas se despediram na sétima colocação e com clima pesado entre as participantes.
A melhor surpresa foi o resultado de Geisa Arcanjo no arremesso de peso. Campeã mundial júnior, a atleta de São Roque foi flagrada em exame antidoping e ficou quase um ano sem competir. Quando foi liberada, correu contra o tempo para alcançar o índice olímpico. Carimbou o passaporte e estreou nos Jogos avançando à final em 11º lugar. Aos 20 anos, bateu seu recorde pessoal mais uma vez. Alcançou 19,02m em sua terceira tentativa e terminou a disputa na sétima posição.
- Meu objetivo era melhorar minha marca e ficar entre as oito. Foi isso que eu vim buscar em Londres. Para mim, esse resultado é melhor do que qualquer título que eu conquistei na minha carreira – disse, em entrevista ao SporTV.
A maratona masculina, última prova do programa do atletismo olímpico, também teve balanço positivo para o Brasil. Pela primeira vez na história, os três inscritos do país cruzaram a linha de chegada nas 15 primeiras colocações. Marílson dos Santos foi o quarto colocado durante a maior parte do percurso e terminou em quinto lugar. Menos conhecido do trio, Paulo Roberto de Paula foi oitavo, e Franck Caldeira, que liderou por alguns quilômetros, fechou na 13ª colocação.
- O Brasil trouxe o que nós temos de melhor. Foi um grande resultado colocar três altetas entre os 20. Mostra que nós estamos no caminho para 2016. Cabe agora cada atleta e seu técnico trabalharem as suas partes para aperfeiçoarem o que a maratona cobra - disse Caldeira.
FONTE: GLOBO