Em entrevista ao 'Fantástico', torcedores falam sobre drama em Oruro
Presos há 38 dias em Oruro, na Bolívia, 12 torcedores do Corinthians são suspeitos da morte de Kevin Espada, atingido por um sinalizador durante o jogo contra o San José, pela Libertadores. O "Fantástico" foi atrás da história destes presos, que relatam as condições primitivas da Penitenciária San Pedro.
No começo da semana, eles receberam a visita do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. O encontro foi gravado por um fotógrafo que acompanhou a reunião.
- Cabe à Justiça boliviana provar a nossa culpa. Mostrar para o mundo que nós somos culpados - disse um dos presos.
- Eles estão assustados, amedrontados, sentem claramente que estão correndo risco, porque é uma prisão pra 200 pessoas, mas com 1.500. Uma condição muito primitiva comparada às nossas piores penitenciarias no Brasil - explicou o senador Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de relações Exteriores.
Dentro do presídio em Oruro há um orelhão. O 'Fantástico' falou com os presos através dele. Danilo, de 27 anos, conta que é formado em comércio exterior e trabalha como auxiliar de logística. Emagreceu 12 kg na prisão.
- Tenho trabalho, tenho residência fixa e por isso até, eu sou inocente e tô aqui ainda. Eu não entendo. Semana passada eu peguei infecção urinária. Eu, particularmente, já fui mais de cinco vezes aqui no médico.
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Marco Aurélio, outro torcedor preso, descreveu a cadeia. Ele tem 30 anos e conta que é corretor de imóveis, tem três filhos, e a mulher está grávida de oito meses.
- São duas celas e estamos divididos em grupos de seis, em uma cela tipo dois metros por quatro de largura. Tem três colchões, forramos, cada um dorme em dois, entendeu? Eu estou aqui e não sei se vou conseguir sair a tempo de ver o nascimento do meu filho, previsto a partir do dia 15 de abril.
Os advogados que defendem os torcedores dizem que não conseguem ter acesso ao processo na Bolívia. Eles afirmam que ainda nem sabem exatamente do que os brasileiros estão sendo acusados.
- Podemos dizer, sem dúvida, que nós temos 12 brasileiros, hoje, sequestrados em um presídio em Oruro na Bolívia - afirma Maristela Basso, advogada dos corintianos.
Um menor que mora na região metropolitana de São Paulo assumiu ter feito o disparo. O rapaz, de 17 anos, se apresentou à justiça brasileira e foi liberado. O Ministério Público de São Paulo já enviou o depoimento dele à Bolívia, por meio do Ministério das Relações Exteriores. Mas a justiça boliviana ainda não se manifestou sobre isso.
O senador que visitou os brasileiros acredita em um outro motivo para eles estarem presos até hoje.
- Há um incômodo muito grande, um protesto muito grande por parte do governo boliviano em razão de termos concedido asilo político ao líder da oposição do governo boliviano, que esta há quase um ano confinado na embaixada brasileira.
O senador boliviano Roger Pinto Molina, abrigado na embaixada brasileira, alega ser perseguido por denunciar corrupção no governo de Evo Morales. Já o governo boliviano acusa Molina de vários crimes. Entre eles, denúncia de venda irregular de terras estatais e repasse ilegal e sem controle de verbas públicas. Em nota ao Fantástico, o Ministério das Relações Exteriores não confirma essas pressões. Diz que o "cidadão brasileiro não é moeda de troca em nenhuma situação." E que "em momento algum, houve menção nesse sentido por parte do governo boliviano."
O Itamaraty também afirma que a representação brasileira na Bolívia tem feito visitas frequentes ao grupo detido, para que os direitos humanos sejam respeitados.
Esta semana, os doze corintianos foram fotografados jogando bola na prisão. Eles usavam camisas em homenagem a Kevin Espada, com um pedido de liberdade para o grupo.
No dia 8 de abril, os torcedores devem deixar a prisão. Mas apenas para ir ao estádio, participar de uma reconstituição.
FONTE: GLOBO