segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Alex: 'A violência foi pior que o rebaixamento'


Revelado no Coritiba, meia do Fenerbahçe, da Turquia, lamenta a briga protagonizada por torcedores do Coxa após a queda para a Série B

Da Turquia, Alex acompanhou a queda do Coxa
A distância jamais afastou Alex do Coritiba. Nem os 12 anos desde que deixou de vestir a camisa alviverde. Fala com tamanha propriedade, que parece ter participado de cada momento do Coxa, especialmente nesta temporada. A importância do centenário, a sucessão de tropeços e até a pancadaria pós-descenso. Na Turquia, o meia do Fenerbha­­çe viu (e sentiu) o desfecho trágico do ano alviverde como qualquer outro torcedor presente na arquibancada do Couto Pereira há duas semanas. Ao menos longe, estava a salvo da violência provocada pelos vândalos no estádio.

- O que eles fizeram com o clube foi pior do que o rebaixamento - lamentou, apesar de prever tal reação de parte do público.

Em meio à frustração e à esperança, o ídolo e torcedor coxa-branca analisa a situação do clube e sugere mudanças para o Coritiba se reencontrar e recomeçar em 2010.

Na segunda-feira ocorre a eleição no Coritiba, com uma única chapa e a permanência do presidente Jair Cirino? Quais os desafios dessa próxima gestão dele em um momento tão delicado? Alex: Primeiro, acho que as eleições não deveriam ser agora. Era melhor esperar um pouco, diante do momento do clube. Acho que ninguém conhece mais o Coritiba do que o Cirino. Ele sabe dos contratos, das dívidas, de onde entra e sai dinheiro. O momento é de mudanças, não necessariamente de nomes, mas de atitude.


O próprio Cirino pode fazer essas mudanças. O problema é funcionamento diretivo do clube. A forma de gestão? É, eu não gosto. Pode até ter o G9, mas precisa ser mais rápido, mais dinâmico. As coisas demoram muito para acontecer no Coritiba. Uma lentidão que não acompanha o dinamismo do futebol. Tem de se organizar in­­ternamente.



O que a gente ouve à distância é que está muito desorganizado. Além do problema político e administrativo, o Coritiba vai sofrer muito longe de casa e com a falta de recursos. Se limitará a sobreviver sepultando projetos como um novo estádio, por exemplo. O que pode aliviar essa situação? O Coritiba não tem dinheiro para nada. Tem de cuidar do que tem, do CT, do Couto Pereira, que vai ficar trancado esse ano.



O clube sempre formou e vai continuar formando jogadores. Tem de dar atenção a isso, fazer contratos com percentuais mais interessantes para ajudar o clube. Essas pessoas que estarão lá têm de agilizar isso. Na sua opinião, os pratas da casa podem fazer a diferença em 2010, por representar, teoricamente, um custo menor e com uma identificação maior com o clube? Quando joguei no Coritiba, 60% do elenco era de meninos.



Mui­­tos nem jogavam, só estavam no grupo. Mas sabiam o que representava estar ali e fazer o time subir para a Primeira Divisão (em 1995). Hoje o jogador chega, parece que bate cartão quando sai e esquece. A relação é fria. Não dá para chegar pensando em sair na metade do ano para o exterior. Precisa de compromisso. Eles têm de conhecer o clube, saber quem já jogou ali, a história – uma história de 100 anos. Saber que existe um torcedor que sofre e fica feliz. Você acha que faltou um pouco disso em 2009, mesmo com o apelo do centenário?


O resultado depende dos jogadores assumirem muita coisa. No Coritiba, tudo o que acontece na parte política afeta no vestiário. Como eram os 100 Anos, bateram muito nessa data, criou-se grande expectativa e nada aconteceu.


Isso reflete no grupo, não tem como. Você assistiu à última partida? Assisti a tudo. Não sei se tinha convicção ou o desejo de que o time escapasse. Me preocupava o momento mágico do Fluminense ganhando tudo. Sabia que criaria muita dificuldade. Para o Coritiba faltava um ambiente favorável. A tensão aumentava a cada fim de semana com as goleadas contra o Santos e o Cruzeiro. O clima não era bom.

Esperava uma reação como aquela da torcida?


Já imaginava. Tenho amigos que participam das organizadas, são dos bairros e têm uma visão parecida com a daqueles que invadiram o campo. Falam que o jogador tem de apanhar, o presidente merece levar porrada. A torcida tem de entender que jogador ruim não vai aprender a jogar apanhando. Qual prejuízo esse episódio causou à imagem do Coxa?


Sinto uma tristeza profunda, porque conheço bem a torcida e não é nada daquilo. Foi uma minoria levada por esse ano frustrante e a situação agonizante do último mês. Existe essa marginalidade desequilibrada em qualquer canto. Não é uma questão só do futebol, é social. Por outro lado, havia mais 30 mil torcedores no estádio que não aprovaram nada daquilo.



O prejuízo que eles causaram foi pior do que o rebaixamento para a Segunda Divisão. Como imagina que será 2010? Diferentemente da maioria, tenho uma paciência enorme com o Coritiba.


O torcedor precisa entender que demos vários passos para trás. Será complicadíssimo, mas é possível. Não vislumbro resultados dentro em campo. Minha preocupação é fora de campo. Mas, se administrativamente estiver bem, evoluindo, com transparência e agilidade maiores, a torcida vai carregar o time. Onde ele estiver.


fonte globo