sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ronaldo Angelim guarda a relíquia da maior tragédia de sua carreira


Zagueiro tem a camisa que trocou com Cabañas no jogo da eliminação da Libertadores de 2008. Naquela noite, ele varou a madrugada no Maracanã

Quis o destino que um dos jogadores que mais sofreu com a eliminação do Flamengo pelo América do México na Libertadores de 2008 fizesse o gol que garantiu o Campeonato Brasileiro de 2009. Ronaldo Angelim foi o último jogador a deixar o Maracanã naquela noite de maio do ano passado, após a derrota por 3 a 0 com dois gols do paraguaio Cabañas. Justamente o atacante com quem ele havia trocado de camisa naquele jogo.


Angelim exibe a camisa que Cabañas usou no jogo em que o Fla foi eliminado da Libertadores de 2008
Até hoje ele guarda em Juazeiro do Norte essa espécie de relíquia de uma das maiores tragédias da história recente do clube. O zagueiro, que sempre assumiu ser torcedor do Flamengo, ficou abalado com a derrota em pleno Maracanã lotado. Pouca gente sabe que ele foi embora do estádio só de manhã. Passou a madrugada no vestiário sozinho e chorando a dor do que ele considera o pior momento da sua carreira.


- Depois do jogo, o clima estava tenso e eu realmente estava muito abalado. Fora do estádio estava havendo confusão. Lembro até que amassaram o carro do Bruno. Sei que resolvi ficar sozinho para dar um tempo. Mas acabei ficando bem mais. Só fui chegar em casa depois das cinco horas da manhã. O dia já estava clareando. Depois nem consegui dormir. Meu olho não fechou. Passou muita coisa na minha cabeça. Foi uma decepção total – disse Angelim.

É por isso que ele sofre quando olha para a camisa que ganhou de Cabañas, que ficou marcado como o personagem que acabou com o sonho de um título rubro-negro na Libertadores. Mas o próprio passado do zagueiro, contado ao longo da semana pelo GLOBOESPORTE.COM, o ensinaram a não abaixar a cabeça.

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- Quando abro a porta do armário e mexo nas camisas que eu troquei e vejo essa do Cabañas, eu sinto muita raiva. Ela fica aqui em Juazeiro. No Rio eu tenho uma outra que troquei no primeiro jogo, no México. Ver essas camisas acaba me servindo de motivação. Até porque tudo que eu faço com raiva eu acabo fazendo com mais determinação – disse Angelim.

Praticamente certo no Flamengo em 2010 (o vice de futebol, Marcos Braz, garantiu que a renovação com ele não será problema), o zagueiro sonha com um reencontro. Até por ter a certeza que a história final seria diferente.

- Eu gostaria de marcar o Cabañas de novo um dia, se possível nessa Libertadores. Duvido que ele iria fazer esses gols novamente. Essa é a pior lembrança da minha carreira. O Flamengo tinha elenco para ser campeão e fomos eliminados de uma forma trágica. Eu disse na época e repito até hoje: eu trocaria o título do Estadual pela vaga na Libertadores que deixamos escapar... O próximo adversário na competição seria o Santos, que ganhamos logo depois por 3 a 1, pelo Brasileiro. Jogamos fora uma grande oportunidade – contou o jogador.

Angelim aguentou todo o sofrimento durante os últimos 18 meses até a conquista do Campeonato Brasileiro com um gol justamente seu. Se o Flamengo não vencesse o jogo contra o Grêmio, perderia o título, e uma nova tragédia certamente apareceria para o azucrinar Angelim. Mas ele conseguiu a consagração no melhor estilo “os humilhados serão exaltados”.

Isto, porém, não é motivo para ele se desfazer da camisa que marca um passado, agora bem mais distante e talvez um pouco menos doloroso.

- Outro dia um rapaz aqui da região fez uma oferta bem alta, mas não aceitei. Deixa ela aqui para eu continuar olhando sempre – afirmou.


fonte globo