Craque veste camisa 10 e braçadeira de capitão, faz golaço, repete comemoração de 1997 e se emociona diante de mais de 21 mil vascaínos
Craque, veloz, polêmico, goleador, habilidoso, ídolo. Animal. Em 17 anos de carreira, Edmundo marcou seu nome na história do futebol brasileiro e especificamente do Vasco. Faltava apenas uma festa de despedida. Na noite desta quarta-feira, 21.247 torcedores presenciaram esse ritual e abriram seus braços em São Januário para receber o craque pela última vez em uma partida. E ele, vestindo a camisa 10, retribuiu a presença da torcida com dois gols, belos passes, dribles, agradecimentos e lágrimas. Os companheiros também contribuíram para a festa, aplicando uma goleada marcante por 9 a 1 sobre os equatorianos do Barcelona de Guayaquil, em reedição da final da Libertadores de 1998 - na qual Edmundo não esteve presente, num motivo de lamento até hoje, tanto para ele quanto para os vascaínos.
Revelado pelo Vasco e aposentado desde o fim de 2008, Edmundo teve cinco passagens por São Januário. Principal nome do título brasileiro de 1997, ele disputou ao todo 241 partidas e marcou 137 gols, já contando com a partida de despedida. A reverência dos torcedores ao ídolo fez com que nesta quarta o público pagante (16.021) fosse maior do que em qualquer jogo da Libertadores.
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E a entrega em campo do camisa 10, hoje com 40 anos, foi tamanha que os torcedores pediram até o seu retorno, com gritos de "Volta, Edmundo" e "Fica, Edmundo". O craque fez lembrar seus áureos tempos em alguns momentos. Em seu segundo gol, mostrou categoria e visão de jogo ao iniciar a jogada, num belo lançamento para Fagner. Completou o cruzamento de primeira e comemorou da mesma maneira que na fase semifinal do Campeonato Brasileiro de 1997, quando o Vasco eliminou o Flamengo: balançando os braços no alto e rebolando. Antes, já havia marcado de pênalti, numa falta em Thiago Feltri fora da área.
- Precisava disso na minha vida. Acho que estou fechando minha carreira com chave de ouro - disse Edmundo, no intervalo, momentos antes de jogar sua camisa em direção à arquibancada.
O ponto final da participação de Edmundo veio aos 40 minutos do segundo tempo. Com o hino vascaíno sendo tocado pelo sistema de som de São Januário, ele passou a braçadeira de capitão para Felipe, recebeu a bola do jogo e foi substituído por Wiliam Barbio. Emocionou-se e saudou a torcida nas cadeiras sociais, agradecendo:
- Muito obrigado, do fundo do meu coração.
Os outros gols da vitória foram de Allan (dois), Alecsandro, Juninho, Eder Luis, Fellipe Bastos e Diego Souza. Asencio, que participou da final de 1998 e foi convidado para o jogo desta quarta, marcou para os equatorianos.
Após a festa, o Vasco pensa agora na Taça Rio, entrando em campo no sábado para enfrentar o Macaé, às 16h, no Estádio Cláudio Moacyr. Na terça-feira seguinte, o compromisso será pela Libertadores, contra o Alianza Lima, fora de casa.
Festa, emoção, dois gols e genialidade
Com os refletores do estádio apagados, Edmundo entrou em campo sozinho para ser saudado pelos torcedores. Com o número 10 às costas, ele não segurou a emoção e precisou enxugar as lágrimas. O próximo passo foi receber a braçadeira de capitão do apoiador Juninho Pernambucano. Depois de uma longa queima de fogos, típica da década de 90, Edmundo recebeu uma placa do presidente Roberto Dinamite e cumpriu o papel de ídolo ao cantar o hino vascaíno em coro com os torcedores.
Com o seu time titular, o Vasco não demorou a se impor sobre o Barcelona, que misturou reservas e juniores. O astro da noite, aposentado desde o fim de 2008, mostrou disposição e boa movimentação após cinco dias de treinos com o elenco. Sofreu a primeira falta da partida, com menos de 30 segundos, e teve uma boa chance aos dez minutos: recebeu passe de Eder Luis e chutou por cima do travessão.
O primeiro gol de Edmundo saiu pouco tempo depois, graças a uma ajuda do árbitro Marcelo de Lima Henrique, que assinalou pênalti em falta em Thiago Feltri fora da área. Marcado na carreira por alguns pênaltis decisivos desperdiçados, o ídolo foi para a cobrança e não decepcionou. Bola de um lado, goleiro de outro, e muita festa dos jogadores e da torcida: 1 a 0, aos 12 minutos.
Edmundo participava de todas os lances ofensivos, o que acontecia a todo momento, já que o jogo praticamente se resumia a ataque contra defesa. O segundo gol veio aos 23 minutos, e com o toque do craque. Ele recebeu lançamento na área, donimou com categoria, limpou o zagueiro e tocou para Fagner. O lateral deu um belo giro de corpo e passou a bola para Alecsandro, que ainda limpou outro defensor antes de ampliar. A homenagem ao ex-jogador veio com o polegar e o dedo mindinho esticados, em comemoração tantas vezes usada por Edmundo.
O principal momento da noite, no entanto, ainda estava por vir. Pouco depois de perder gol feito, Edmundo descolou belo lançamento para Fagner, que se esforçou, impediu a saída da bola e cruzou de trivela para o camisa 10 pegar de primeira: 3 a 0.
Os últimos minutos da etapa final ainda reservaram um gol do Barcelona, marcado por Asencio, em rara falha de Dedé, e o quarto do Vasco, anotado por Juninho Pernambucano, sendo o primeiro sem a participação de Edmundo.
Apagão e gols em profusão
Veio o segundo tempo, e o show de gols continuou. Com um minuto de jogo e após cinco substituições na equipe titular, o Vasco marcou seu quinto gol. Eder Luis recebeu cruzamento de esquerda e tocou de calcanhar. A bola desviou na zaga e matou o goleiro equatoriano. Momentos depois, houve queda de energia em São Januário, paralisando a partida por pouco menos de 20 minutos.
Luz restabelecida, mais gols no placar. Fellipe Bastos fez o sexto em cobrança de falta, após falha do goleiro Vera. O sétimo foi de Allan, que tabelou com o próprio Bastos dentro da área. Aos 30 minutos, Diego Souza chutou cruzado para marcar 8 a 1. A cada bola na rede, novas homenagens a Edmundo.
O adeus se deu aos 40. Com o público de pé, a placa de substituição anunciou a saída do ídolo para a entrada de Wiliam Barbio. Visivelmente emocionado, Edmundo passou a braçadeira de capitão para Felipe, recebeu a bola do jogo e deixou o gramado pela última vez, ao som do hino do Vasco. Durante a volta olímpica, ele nem viu o nono e último gol, marcado novamente por Allan. Mas nada mais importava. Naquele momento, Edmundo enfim cumpria seu sonho, de reencontrar a torcida numa partida de despedida.
- Posso dizer que, neste dia 28 de março de 2012, sou o cara mais feliz do mundo - afirmou.