terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Após 7 a 1, Ancelotti, Löw e Simeone defendem técnicos brasileiros


O Brasil tem incontáveis jogadores nos clubes de elite do futebol europeu, mas nenhum treinador. Apesar disso, os três técnicos indicados ao prêmio de melhor do mundo em 2014 defenderam seus colegas brasileiros. Para o argentino Diego Simeone (Atlético de Madrid), o alemão Joachim Löw (seleção alemã) e o italiano Carlo Ancelotti (Real Madrid), o Brasil tem, sim, bons profissionais.

- Eu não acredito que Brasil não tenha bons treinadores. (Luiz Felipe) Scolari é um muito bom treinador, mas de vez em quando os treinadores não dão resultados, e os resultados do Brasil na Copa não foram bons - declarou Ancelotti.

Para o alemão Löw, que comandou a campeã mundial alemã no 7 a 1 sobre a Seleção de Felipão, o fato de o Brasil ter bons jogadores, "sobretudo com bom domínio da técnica", é uma mostra de que existem bons treinadores no Brasil. Na avaliação do argentino Diego Simeone, a ausência de brasileiros na elite da Europa tem a ver com os resultados recentes.

Low, Ancelotti e Simeone na coletiva da Fifa (Foto: Martín Fernandez)Simeone, Löw e Ancelotti participam da coletiva da Fifa em Zurique (Foto: Martín Fernandez)


Os três melhores técnicos de 2014 também defenderam mudanças nas regras - como o fim da expulsão para o último homem que cometa uma falta - e mais uma substituição nas partidas. A seguir, a íntegra da entrevista coletiva de Low, Simeone e Ancelotti.

Confira os principais trechos da coletiva:

O que é mais importante para fazer um bom time?

ANCELOTTI
O mais importante é o trabalho, trabalhar junto, tirar a qualidade que cada jogador tem e colocar a serviço do time. É um trabalho de longo prazo, que precisa de paciência e, o mais importante, é entender que acima de tudo está o clube e a equipe.

LÖW
Para além da competência técnica tem que ser um bom psicólogo. Meu trabalho é manter todos juntos e fazer com que exista um time competitivo. É uma tarefa central, identificar as personalidades do que temos dentro da seleção. 

SIMEONE
Eu agregaria a competição interna. A melhor maneira de competir para fora, é competir dentro. Assim você tem o grupo presente e deixar os jogadores prontos para os muitos torneios. A melhor maneira de estar preparado, além do que eles disseram, é competir internamente.

Mudanças na regra do jogo

joachim low fifa bola de ouro (Foto: AFP)Campeão do mundo, Löw busca o prêmio de melhor técnico de 2014 (Foto: AFP)
LÖW
Essa tecnologia da linha do gol é importante. Se eu tivesse influência na regra do jogo, eu talvez permitisse uma substituição a mais. Os jogos sao mais rápidos. Eu gostaria de ter uma quarta possibilidade de substituição para influenciar mais a tática do jogo.

ANCELOTTI
O que é muito penalizante é a regra da expulsão do último homem que faz uma falta. 

SIMEONE
Acho que o pênalti com expulsão é penalizador. E acho que o árbitro que está atrás do gol ajuda muito a resolver situações que não pode ver. 

Como lidar com estrelas

ANCELOTTI
O treinador não decide quem é a estrela. Eu tive sorte de encontrar jogadores de grande talento e grande profissionalismo. Importante ter uma boa relação com o resto do grupo. Quando um jogador percebe como dar para a equipe todas as suas qualidades, esse grande jogador pode ser um grande exemplo para o resto do time. Para o treinador, o tratamento tem que ser o mesmo para todos os jogadores, as estrelas e os de menos qualidade.

LÖW
Como treinador, temos que tratar da mesma forma todos. Hoje em dia, as experiências que colhi nos últimos anos, a comunicação é algo muito importante. Os jogadores hoje são sérios, disciplinados, ambiciosos, querem atingir o topo. Nós temos que nos comunicar, dizer que eles têm que assumir responsabilidades, sobretudo os que têm mais experiência.

SIMEONE
A melhor maneira de conduzir, é ter equilíbrio na comunicação com jovens e velhos. No futebol não há idade. Quando se joga, é um homem, tenha 20 anos ou 35. E dividir as responsabilidades, isso torna cada um mais próximo de seus companheiros, e isso forma um time.

Alto número de partidas 

SIMEONE
A verdade é que há uma quantidade enorme de jogos. Na Espanha temos Copa, Liga e Champions, e mais as seleções nacionais. E os selecionadores precisam desse tempo para trabalhar. Os jogadores precisam de cuidado extremo para estar em alto nível e ter continuidade. Seria bom em algum ponto buscar uma alternativa para aqueles que dão o espetáculo estarem em melhor forma nos melhores eventos. No Mundial, chegam com uma carga muito grande, para uma competição tão bonita. E chegam com uma preparação que não é ideal.

diego simeone fifa bola de ouro (Foto: AFP)Simeone ganhou o Campeonato Espanhol com o Atlético de Madrid no ano passado (Foto: AFP)


ANCELOTTI
Quando comecei a trabalhar, tinha uma semana para preparar um jogo. Agora tenho poucos dias. Agora o trabalho do treinador é tentar preparar um jogo a cada três dias. 

LÖW
Praticamente chegamos ao limite do que é possível. Com essa velocidade que se joga hoje em dia, é uma grande sobrecarga, sobretudo quando se trata de jogadores da seleção nacional. Nós temos que ter cuidado para que as coisas não ultrapassem o que é possível. Vimos na Copa do Mundo e na Copa dos Campeões na parte tática e na parte física que não há mais espaços livres. 

Jovens jogadores

SIMEONE
Os que temos menos possibilidades econômicas, temos que olhar para a base. E no futuro eles podem ser uma alternativa para o clube. No Atlético, quando podemos subir um garoto, para fazer pré-temporada ou treinar, fazemos, para quanto tivermos a possibilidade de poder contar com ele, já sabemos que poderá estar conosco.

LÖW
Temos que trabalhar na formação dos treinadores dos jovens, para que os jogadores sejam bem preparados para o futuro.

carlo ancelotti fifa bola de ouro (Foto: AFP)Ancelotti levou o Real Madrid ao sonhado décimo título da Liga dos Campeões  (Foto: AFP)FONTE: GLOBO