Inaugurado em 1992 e sem receber uma partida há 10 anos, Vilelão é invadido por população de sem-teto. Cidade de Santana tem duas equipes profissionais
O estádio Antonio Vilela, o Vilelão, nem de longe lembra o palco de algumas das mais importantes finais de campeonato da cidade de Santana (a 17 quilômetros de Macapá, no Amapá) e até de jogos profissionais do estadual. Abandonado, o local está ocupado por uma população de sem-teto que mora nas cabines de imprensa. A obra de reforma, parada há mais de cinco anos, não tem nem previsão para ser concluída.
Cena inusitada: invasor exibe troféu achado em área de estádio abandonado no Amapá (Foto: Jonhwene Silva/GE-AP)
- Tem um tempão (que ocupam o estádio) - diz um desses moradores, que se identifica como Izael Costa da Silva e também diz não ter para onde ir.
Inaugurado em 1992, o Vilelão, inicialmente com capacidade para quatro mil torcedores, está situado no centro da cidade e foi interditado para reforma em meados de 2009 - mas já estava sem receber jogos bem antes, há quase dez anos. Desde então, competições como Suburbano, Interbairros e torneios de categorias de base tiveram que ser transferidas para outros locais. Desportistas e membros da imprensa local relatam que se o espaço já estivesse concluído poderia receber partidas do Campeonato Amapaense.
Manoel Castelo: 'Falta de respeito com o torcedor' (Reprodução/Facebook)
O cronista esportivo Manoel Castelo considera a situação do estádio uma falta de respeito com o torcedor amapaense.
- Estamos vendo a situação como uma falta de respeito e nenhum compromisso do poder público, dado o tamanho descaso com aquela praça de esportes. Uma vez que se tira o espaço do desportista e o deixa sem condições para a prática das atividades, tira-se também a oportunidade do vendedor comercializar seus produtos, é uma cadeia. O futebol gera renda. É por isso que muitas vezes vemos jovens consumindo bebida alcoólica e utilizando drogas em vez de estarem em campo, praticando um esporte - argumenta Castelo.
O ex-jogador de futebol Sergio Guedes lamenta a atual situação do Vilelão. Para ele, os dois times profissionais do município (Independente e Santana) poderiam ter o mando de campo no local e fazer partidas em casa sem precisar ir à capital. Além disso, Sergio afirma que a localização privilegiada do local atrairia muito mais torcedores dos dois clubes.
Arquibancadas são usadas para secar roupas dos "moradores" das cabines de imprensa (Foto: Jonhwene Silva/GE-AP)
- Acho que é mais falta de interesse do poder público em resolver a questão do Vilelão. Sabemos que ali faltam poucas coisas para serem concluídas e não vemos qualquer medida para resolver. É lamentável termos dois times profissionais e termos que ir para Macapá para assistirmos a jogos desses times. Sem dúvida, se o estádio tivesse pronto, o torcedor iria lotar as arquibancadas - destaca.
Atualmente, o estádio está tomado pelo mato, e os invasores dormem em espaço precário e fazem até alimentação sem qualquer higiene em meio à arquibancada. O estádio é responsabilidade da Prefeitura de Santana, segundo maior município do Amapá. De acordo com o secretário municipal de Infraestrutura, Alfredo Botelho, a obra terá que passar novamente por licitação. Ele informou que anteriormente o projeto estava orçado em R$ 800 mil.
Área do campo de futebol é apenas um descampado de terra batida (Foto: Jonhwene Silva/GE-AP)
- Rescindimos o contrato com a empresa responsável pela obra, inaugurada apenas com a primeira etapa, que inclui uma praça e lanchonetes. A parte do estádio, incluindo alambrados, arquibancadas, iluminação, cabines de imprensa e gramado, terá que ser licitada novamente. Temos laudos que indicam que a parte das cabines de imprensa terá que ser demolida e refeita. Já há recurso disponível através de emenda de um senador na ordem de R$ 500 mil, destinados para reiniciar a obra. Mas, quanto a uma previsão para ser entregue, não temos - informou o secretário.
Botelho ainda declarou que os invasores já foram retirados mais de uma vez pela Polícia Militar, mas acabaram voltando. Enquanto a reforma não sai, a Santana resta apenas o estádio Augusto Antunes, no afastado bairro Vila Daniel, que recebeu os jogos do estadual de 2014, mas funciona de forma precária, recebendo apenas treinos. E, para o Vilelão, restam apenas as lembranças das grandes partidas de outrora.
Estádio é responsabilidade da prefeitura, que informa que irá retomar as obras (Foto: Jonhwene Silva/GE-AP)