Nos bastidores da despedida do ‘Santo’, torcedora consegue afago no ídolo, ex-rivais simulam nova briga e filha conta que pai passou o dia 'mudo'
Por Diego Ribeiro e Diogo Venturelli
São Paulo
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O último dia da carreira profissional deMarcos foi agitado, mas valeu a pena. Preocupado com cada detalhe da organização de seu jogo de despedida, terça-feira, no Pacaembu, o “Santo” viu tudo dar certo em um roteiro que se mostrou ainda melhor do que o combinado previamente, ainda durante a tarde. Em um dia de muitas histórias – e também correria – a reportagem do GLOBOESPORTE.COM acompanhou bastidores e momentos curiosos da festa: desde o beijo na careca dado por uma torcedora até a saída emocionante do Pacaembu, já no início da madrugada.
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Marcos chegou ao hotel de concentração dos jogadores por volta das 14h30m, sempre de bom humor e morrendo de fome. Correu para o almoço, mas prometeu que voltaria para atender aos fãs que deram plantão no saguão durante toda a tarde. Àquela altura, poucos companheiros de Seleção e Palmeiras tinham chegado – destaques para Edílson e Paulo Nunes.
– Acabei de contar para ele a história do Kadett. Logo que ele começou no Palmeiras, não tinha carro, e por isso fizemos uma “vaquinha” para comprar um Kadett meio antigo para o Marcão. Na primeira viagem para Oriente, ele volta sem o carro! Roubado! É mole? – brincou Edílson.
Após o almoço leve, Marcos voltou a se preocupar com a organização. A todo momento, perguntava para pessoas da produção se todo mundo estava sendo bem tratado. Com a resposta positiva, ele ficou mais tranquilo para conversar com fãs.
Uma das palmeirenses foi ousada. A professora Bárbara Maia, que saiu do Mato Grosso do Sul só para ver o jogo, fez um pedido inusitado ao “Santo”: beijar sua careca para dar sorte. A recepção foi mais inusitada ainda. Marcos não só aceitou a solicitação, mas também abaixou a cabeça para receber o afago. Ao lado dele, um ex-companheiro de equipe riu: Oséas.
– Que coragem, menina! – alertou.
Com a careca devidamente beijada, o “Santo” reuniu todos os jogadores presentes no hotel para a preleção. Na verdade, uma conversa com os organizadores da partida, que passariam o roteiro da festa a todos os “atores” do Pacaembu. Por volta das 16h, em uma reunião a portas fechadas, todos ficaram sabendo que Marcos jogaria no ataque por alguns minutos, a partir dos 12 do segundo tempo. O próprio ídolo protestou:
– Eu estou sem joelho, não aguento dar um pique... A torcida me mata se eu perder um gol – brincou.
Minutos depois, questionado pelos amigos se teve alguma participação na organização, nova brincadeira:
– Única coisa que consegui foi vetar o isotônico no vestiário. Só vai ter latinha (risos).
Um novo lanche às 18h marcou os últimos momentos de descontração dos jogadores antes da ida ao Pacaembu. Um ônibus do Palmeiras e um de cor amarela, com motivos que lembravam os da seleção brasileira, fizeram o traslado até o estádio. As duas delegações foram separadas na saída do hotel, dando início às primeiras brincadeiras que denunciaram a rivalidade. Edílson e Paulo Nunes, que protagonizaram briga histórica na final do Campeonato Paulista de 1999, relembraram a situação.
– Já combinei uma briguinha com o Edílson para dar um tempero no jogo. Vocês vão ver – riu Paulo.
No ônibus, muito bate-papo e mais histórias engraçadas – principalmente do lado alviverde, que tinha a presença de Marcos. No estádio, o “Santo” não quis muito contato com imprensa e torcedores na chegada. O negócio era se concentrar para não fazer feio no jogo do ano para ele. A única que ouviu – ou melhor, não ouviu – Marcos foi a filha Anna Júlia:
– Ele passou o dia mudo. Até falei que o gato comeu a língua dele.
Faltaram palavras para o ídolo alviverde descrever a recepção que teve na subida para o gramado. Fogos, cantos, camisas, faixas, bandeiras... Tudo em alusão ao jogador que doou 20 anos de sua vida ao clube que ama. Em campo, a festa foi mais do que justa, com um gol marcado e nenhum sofrido contra a seleção brasileira de 2002. Na saída do estádio, já com um Pacaembu vazio, Marcos deu um beijo nos familiares e voltou para casa com a sensação de dever cumprido. Agora, o “Santo” está de férias, mas não será esquecido pelos brasileiros que aprenderam a respeitar o ídolo.