Dirigente aproveita a vida livre de seu passado sombrio, enquanto seu substituto, José Maria Marin, retorna ao centro do poder após anonimato
Há exatamente um ano Ricardo Teixeira renunciou ao cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e bandeou-se para os Estados Unidos, onde cumpre um exílio voluntário. Voltar ao Brasil significaria dar adeus a uma vida tranquila para reencontrar um passado de denúncias e cobranças.
Em solo americano, Teixeira usufrui de uma vida de marajá, ao lado da esposa e da filha. Reside em uma casa de valor estimado em R$ 2 milhões, em Boca Ratón.
Um condomínio de luxo, em Miami, é usado pelo dirigente para passar os finais de semana e realizar festas. Em uma mansão no valor de R$ 14 milhões, Teixeira acolhe os seus amigos, como revelou a “Folha de S. Paulo”, em fevereiro.
Aos 65 anos, Teixeira tem uma rotina de aposentado. Leva a filha ao colégio, faz compras no supermercado e passa o dia recolhido em sua casa, de onde administra seus negócios e interfere nos bastidores do futebol brasileiro.
Retornar ao Brasil não está nos planos de Teixeira. Ao sair às pressas, ele deixou para trás um rastro de denúncias e desconfianças quanto à sua conduta nos 23 anos que ficou à frente da CBF.
Uma sombria herança que inclui suspeitas de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação de impostos, como mostrou o relatório da CPI do Futebol, realizada, em 2001. No total, foram 12 recomendações feitas ao Ministério Público sobre os supostos crimes.
LANCE!Net ‘visitou’ Teixeira
Em fevereiro de 2012, a reportagem do LANCE!Net revelou, em primeira mão, detalhes do milionário refúgio de Ricardo Teixeira na Flórida. A mansão fica em Boca Ratón, e está avaliada em R$ 2 milhões.
No condomínio The Polo Club, Teixeira conta com um campo de golfe exclusivo. A casa tem 1.324,36 metros quadrados. Só a garagem tem 227,38 metros quadrados. São três quartos e quatro banheiros. A casa foi construída em 1997, quando foi comprada pela Globul Anstalt por US$ 924.400 (R$ 1,8 milhão à época).
Segundo publicou a “Folha de S. Paulo”, a casa está registrada como sede da Kronos Capital Investiments, empresa de Teixeira.
Marcas de Teixeira
CPI do Futebol
Recebeu um total de 12 acusações no relatório final das investigações.
Fisiologismo e nepotismo
Em sua gestão, foram várias as nomeações de parentes e amigos para atender a seus interesses.
Doações a políticos
Em várias eleições, Teixeira fez doações para seus aliados.
Pontos corridos
Modificou a fórmula do Campeonato Brasileiro para pontos corridos.
Copa do Mundo
Foi campeão em 1994 e 2002.
Marin com o técnico Felipão em anúncio de convocação da Seleção (Foto: Mowa Press)
José Maria Marin saiu do anonimato para o centro do poder
Nem José Maria Marin poderia imaginar tamanho retorno aos holofotes, aos 80 anos de idade. No dia em que leu a carta-renúncia de Ricardo Teixeira à presidência da CBF, o até então desconhecido governador biônico de São Paulo viu o comando da entidade que dirige o futebol brasileiro e a direção do Comitê Organizador Local da Copa caírem em seu colo.
Beneficiado por ser o vice-presidente mais velho da CBF, o também ex-jogador do São Paulo saiu de seu quase anonimato para hoje administrar uma entidade que movimenta, apenas em receitas de patrocínios, R$ 220 milhões e um orçamento de R$ 896 milhões referentes ao Mundial de 2014.
Se não abriu uma discussão ampla pela reformulação do calendário e por uma eventual gerência dos grandes clubes em uma liga própria, Marin, contudo, foi fiel à promessa de manter o trabalho de Ricardo Teixeira. O paulistano, assim como seu antecessor, manteve o controle das federações estaduais e ainda aumentou a mesada destinada a essas entidades.
A medida manteve a unidade em torno do poder e inviabilizou a oposição dentro da CBF. Apesar da lealdade ao ex-presidente, ele colocou pessoas de sua confiança nos postos-chave: Marco Polo del Nero e Reinaldo Carneiro tornaram-se figuras proeminentes.
Mesmo assim, há quem garanta que tanto Del Nero quanto Carneiro foram ungidos por Teixeira, que atuou nos bastidores do poder.
Isto é Marin
Outra face
Ao contrário do antecessor, José Maria Marin distribuiu sorrisos e é mais atencioso no trato com a imprensa. Como está sempre concedendo entrevistas coletivas, as gafes também são muito mais recorrentes.
Ponte aérea
Com residência em São Paulo, Marin administra a CBF e o COL de uma sala na Federação Paulista de Futebol. Reuniões também são feitas por lá.
Tijolinho
Marin comprou outro terreno para a nova sede da CBF. O comprado por Teixeira tem problemas no solo e é alvo de disputa judicial.
Vladimir Herzog ainda ‘assombra’ Marin
Um fantasma do passado tem assombrado José Maria Marin, que viu seu nome envolvido na morte do jornalista e ex-diretor da TV Cultura, Vladimir Herzog, torturado e assassinado em 1975, durante o regime militar.
Dias antes da pisão e do assassinato do jornalista, Marin, então deputado, disse, em pronunciamento na Assembleia de São Paulo, ser “preciso uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar, não só nesta Casa, mas, principalmente, nos lares paulistanos”.
Ivo Herzog, filho de Vladimir, lançou um manifesto online pedindo a saída de Marin da presidência da CBF e do COL.
fonte: LANCE