Responsável pela cobertura que causou a interdição do estádio, Flavio D'Alambert diz que local é seguro para eventos: 'Eu levaria minha família'
O engenheiro Flavio D'Alambert, da empresa Projeto Alpha, é o responsável pela cobertura polêmica que apresentou problemas e provocou a interdição do Engenhão. Chamado para uma reunião na tarde desta quarta-feira na prefeitura do Rio, ele saiu do encontro, com representantes da RioUrbe e do consórcio responsável pela construção do estádio, com a mesma certeza que entrou: o Engenhão é um local seguro para jogos esportivos.
O GLOBOESPORTE.COM encontrou o engenheiro, que também é responsável pelos estádios de Brasília e de Cuiabá da Copa do Mundo de 2014, antes de ele embarcar de volta para São Paulo. Ele não despreza nem duvida do novo estudo realizado pela empresa alemã Schlaich Bergerman und Partner (SBP), que, aliás, também é responsável pela cobertura do Maracanã. Mas confia plenamente na obra entregue para o Pan- Americano de 2007. No entanto, faz uma ressalva a respeito do tempo de execução do projeto que desenvolveu, até então de tecnologia inédita no Brasil.
- A pressa é inimiga da perfeição. Apesar de terem sido tomados todos os cuidados necessários, o ideal era que houvesse um prazo maior para a construção do estádio. O consórcio, quando houve a troca (da Delta para a dupla OAS/Odebrecht), só tinha mais quatro ou cinco meses para entregar - comenta D'Alambert.
Confira a entrevista com o engenheiro responsável pela cobertura do Engenhão.
GLOBOESPORTE.COM: Por que houve essa diferença de cálculo entre o que vocês, da Alpha, fizeram e o que foi detectado agora?
Flavio D'Alambert: Nós montamos um modelo teórico. Na prática, fazemos um monitoramento para ver se chega próximo ao estudo do teórico. No caso do Engenhão, a prática ultrapassou de 20% a 30% ao teórico. Mais do que eu e o auditor (a empresa portuguesa Tal, contratada para auditar toda a obra) tínhamos previsto. Os alemães falaram em diferença de 50%, ou seja, 20% ou 30% a mais, porém preciso checar esses cálculos deles. É bom frisar que respeito muito a empresa alemã, porém confio muito no cálculo que fizemos e também nos canadenses (empresa RWDI), que são um dos maiores especialistas no assunto em todo o mundo também. Se houvesse qualquer dúvida da minha parte sobre segurança do equipamento, eu jamais teria liberado a obra.
Houve pressa para entregar a obra em tempo do início dos Jogos Pan-Americanos de 2007?
(Demora para responder) A pressa é inimiga da perfeição. Apesar de terem sido tomados todos os cuidados necessários, o ideal era que houvesse um prazo maior para a construção do estádio. O consórcio, quando houve a troca (da Delta para a dupla OAS/Odebrecht), só tinha mais quatro ou cinco meses para entregar.
Vocês observaram algum problema estrutural?
Não, isso não quer dizer que há problema estrutural. O que detecta isso (um problema de estrutura) são vibrações excessivas, deformações que não param. Ou seja, você mede hoje, bate um vento, se aquele ponto estudado está mais baixo, quer dizer que se movimentou. Mas os desníveis observados desde o início (de 20% a 30%) sempre foram estáveis. Isso sempre nos deixou bem tranquilos.
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Na prática, qual é a diferença entre o modelo real e o que vocês esperavam?
Algo em torno de 15 a 20 centímetros. No meu cálculo, teria que deformar 70cm, no máximo. Na observação real, chegou a 88cm. Deu uns 18cm de diferença. Mas foi o que disse. A última medição foi feita em janeiro. E sempre permaneceu estável (a estrutura medida, no topo da cobertura). Se alguém mede hoje, depois faz outra medição amanhã, a estrutura pode ir um pouco para cima ou para baixo. O importante é que estabilize de novo. Isso sempre ocorreu.
O material utilizado no Engenhão foi o mais adequado?
Sim, foram os mais adequados possíveis. Foram materiais da Gerdau e da Cosip (Usiminas). Todos materiais brasileiros. Acompanhei a construção, toda semana eu vinha para o Rio. Quando terminou a obra, saí de cena e deixei um documento em que registrei isso tudo.
Foi feito algum reparo naquele momento?
Não, nada. No momento em que se deforma um pouco, não se consegue recuperar mais. Assume uma posição de equilíbrio, não volta mais.
Quando você soube desse novo estudo?
Eles avisaram que iam pedir um novo estudo. Isso faz mais de um ano, e o resultado definitivo foi na semana passada. Se houvesse qualquer dúvida da minha parte sobre segurança do equipamento, eu jamais teria liberado a obra. O que fizemos foi exatamente o que está sendo realizado no Castelão e no Mané Garrincha.
Havia necessidade de interdição?
Eu acredito nos meus cálculos e acredito no ensaio que foi feito no Canadá. Segundo esses cálculos, não precisaria ser feito nada, a não ser esse monitoramento que está sendo feito até hoje. Agora, nesse cálculo dos alemães, os níveis de segurança caem mesmo. Ele prevê outro carregamento, outro cenário. Não tenho como dizer qual está certo. Eu confio no cálculo que foi feito no Canadá. Os alemães confiam no deles. Diante do que ele recebeu, o prefeito deve tomar a posição adequada. Mas eu levaria a minha família tranquilamente para assistir a um jogo. No cálculo dos alemães, os níveis de segurança diminuem, mas não haveria colapso. Ou seja, a cobertura não corre risco de cair nem há risco para as pessoas. Não dá para dizer qual velocidade de vento provocaria isso, porque é tudo teórico. O ideal seria fazer medições no local.
O que deve ser feito, segundo a reunião de que você participou nesta quarta?
Eles não sabem ainda, mas devem fazer o que os alemães pedirem.
FONTE: GLOBO