Média de tempo de permanência dos mandatários do esporte brasileiro é de nove anos. O Ministério sugere que o tempo ideal de gestão é de até oito anos
Felipe Mendes e Paulo Roberto Conde - 04/10/2012 - 10:16
Com a saída de Roberto Gesta de Melo da presidência da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) no fim do ano, quem assumir á a posição de dirigente há mais tempo no poder de uma confederação no Brasil será Coaracy Nunes Filho. Mandatário da Confedera ção Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) desde 1988, ele, que não pretende deixar o cargo antes de 2016, disse que sua relação com a entidade foi um casamento.
- Há 24 anos, eu me casei com a CBDA. Não poderia ter feito um bom trabalho se não tivesse ficado esse tempo. Estou com a consciência tranquila. Se (o mandato) é longevo, não interessa. O que importa é a qualidade da gestão -– afirmou Coaracy.
Ele é apenas um entre dezenas de dirigentes do esporte brasileiro que se perpetuam no cargo (veja mais abaixo, no gráfico). Em uma época de debate sobre alternância de poder, recomendada até mesmo pelo Ministério do Esporte, a falta de rotatividade entre os cartolas surge como um empecilho ao desenvolvimento do olimpismo nacional.
A média de tempo de permanência dos dirigentes do esporte brasileiro é de nove anos. O Ministério sugere que o tempo ideal de gestão é de até oito anos, ou seja, uma reeleição. É o mesmo que propõe o Executivo – o Comitê Olímpico Internacional (COI) considera 12 anos aceitável.
Exemplo: presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde 1995, Carlos Arthur Nuzman será reeleito amanhã para mais quatro anos de mandato, e totalizará 21 à frente da entidade. E isso porque ele ainda chefia o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio-2016.
Mas, no quesito longevidade, o campeão será Coaracy. Como não tem qualquer intenção de deixar CBDA antes dos Jogos do Rio, ele chegar á a 28 temporadas no comando. Ele garantiu que sairá logo depois.
BATE-BOLA - Coaracy Nunes (Presidente da CBDA, que será o mais longevo no cargo)
Como o senhor avalia sua gestão à frente da CBDA nesses 24 anos?
Estou fazendo uma gestão exitosa. Melhor do que a minha, só o vôlei. Antes, não existia estrutura na CBDA. Peguei a entidade no vermelho e recuperei. Hoje, tenho patrocínios. Comigo, a natação se tornou o melhor esporte do país.
O senhor nunca pensou em fazer um sucessor no cargo?
Sempre fui eleito por unanimidade. Nas duas últimas, foi por aclamação. Teremos eleições em março de 2013 e acho que estou numa situação tranquila. Não mando presidente de federação para viagem no exterior para não dizerem que estou privilegiando alguém. Meu trabalho é incansável e nunca houve um escândalo na minha gestão.
Quando pretende sair da CBDA?
Depois da Olimpíada de 2016. Viajei muito para eleger os Jogos do Rio. Consegui voto. Quero fazer meu sucessor e ficar somente na Fina o tempo que eu quiser. E tenho um projeto de bossa nova no Rio. Muitas pessoas estão me ajudando, como o Carlos Lyra. Todos vão sempre na minha casa. Quero fazer uma casa de música no Rio.
COM A PALAVRA
"Não questiono a administração de ninguém pois não cabe a mim dar palpite, mas ficar 20, 25 anos no poder não dá. Por que não fica quatro, seis, oito anos e depois dá lugar para outro? Isso pode gerar mais dinamismo, ousadia, novas ideias na entidade. A alternância de poder é fundamental para a democracia brasileira. Eu gostaria que o presidente ficasse só dois mandatos. E gostaria que fosse assim nos clubes, nas associações, emtodas as entidades. Mas, para que isso aconteça, é preciso mudar os estatutos de cada uma." (Lula, então presidente do Brasil, em entrevista ao programa "Bola da Vez", da ESPN Brasil, em 2009)
"A alternância de poder é benéfica em qualquer nível de governança. Seja no condomínio de um prédio ou na Presidência da República. Quando um dirigente fica muito tempo no poder, ele passa a ter uma sensação de propriedade à frente da entidade. Se o cara é um bom gestor, é capaz de fazer um sucessor. E pode voltar depois. No COB, sempre que existe a possibilidade de sucessão, a pessoa é sufocada. É como o discurso do Raúl Castro em Cuba. Ele diz que segue no poder porque não há substitutos. Isso é papo furado." (Lars Grael, velejador e ex-presidente da Confederação Brasileira de Vela e Motor, em entrevista ao LANCENET!)
"A permanência dos dirigentes no poder acontece pela falta de gente ou de profissionais. Temos vários atletas olímpicos no COB e estamos dando cursos para se integrarem aqui ou serem futuros dirigentes. Mas eu não sou favorável a limitar o tempo no poder. E por uma razão simples. Fui presidente da CBV por 20 anos, peguei o vôlei em 13º lugar no ranking e deixei como campeão olímpico. Esse trabalho levou tempo. No mundo inteiro isso acontece com frequência. O que temos de fazer é analisar caso a caso." (Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, em entrevista ao LANCENET!, no início de 2012)
"É o que digo sempre. Na minha primeira chefia de missão (Pan de Winnipeg-1999), ninguém me conhecia. Na segunda, algumas pessoas me conheciam. Na terceira, todos me conheciam. Vale a mesma coisa para os dirigentes. Acho que 12 anos é
um tempo razoável para se trabalhar. Menos de uma reeleição torna difícil a realização de um bom trabalho.
Atualmente, temos casos de boas administrações, mas o presidente terá de deixar o cargo pois não pode ser reeleito. O que eu me bato muito é que a gestão seja profissional." (Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo do Comitê Olímpico Brasileiro, em entrevista ao LANCENET!)
FONTE: LANCE