Valor é estornado da conta de quatro jogadores e do técnico Evaristo Piza e irrita o plantel. Em reunião, líderes pedem para grupo esquecer situação e focar no campo
Por GloboEsporte.com
Campinas, SP
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A crise financeira do Guarani atingiu níveis mais altos (ou baixos) nos últimos dias. Quatro jogadores e parte da comissão técnica receberam salário com cheque sem fundo. O clube, que está com dois meses de vencimentos atrasados, usou o pagamento de parceiros para liquidar parte da dívida, mas o valor foi estornado assim que chegou à conta dos atletas. A irritação com o fato foi tão grande que os mais experientes convocaram uma reunião na reapresentação do elenco para contornar o episódio.
Elenco do Guarani se une para evitar que compromissos financeiros atrapalhem toda a campanha (Foto: Marcos Ribolli)
O fato veio à tona após a derrota por 1 a 0 para o São Caetano, no domingo passado, pela décima rodada da Série C do Campeonato Brasileiro. A torcida, irritada pelos resultados ruins e a classificação aquém da expectativa (antepenúltimo colocado, três pontos acima da zona de rebaixamento), vaiou o grupo e fez duras cobranças a Evaristo Piza. O treinador, então, revelou o problema, com a apresentação do extrato bancário, em conversa com integrantes de uma organizada.
– Jamais justifiquei a derrota com a falta de pagamentos. Em nenhum momento foi o pagamento que fez a equipe perder o jogo. Na conversa, eles me perguntaram o que estava acontecendo. Falei de várias situações e me perguntaram se a parte financeira estava em dia. Disse que houve um esforço da diretoria em quitar, antes da partida contra o Tupi, mas na segunda-feira, um ou outro jogador não recebeu o valor inteiro e outros tiveram o valor devolvido – disse o treinador, em entrevista nesta terça-feira, no Brinco de Ouro.
A diretoria confirma o deslize. A promessa do departamento financeiro é quitar os dois meses de atrasos até sexta-feira, véspera da partida contra o Madureira, no Rio de Janeiro. Até lá, a crise continua rondando o Brinco.
– Infelizmente, aconteceu o fato lamentável. Recebemos o pagamento de parceiros e, na ânsia de liquidar as dívidas, os cheques depositados foram estornados. Foi algo contornado pela diretoria – disse o vice-presidente do Conselho Administrativo, Felipe Roselli, que garantiu que a situação está normalizada (o que não aconteceu ainda). O presidente Álvaro Negrão foi procurado peloGloboEsporte.com, mas não atendeu às ligações entre a tarde e a noite desta terça-feira.
Prazo para a solução dos problemas é até esta sexta-feira, segundo o clube
Os cheques sem fundos usados para quitar parte da dívida não pertencem ao Guarani ou a dirigentes do clube, mas sim a terceiros. Essa é a saída encontrada pelo clube para diminuir os problemas financeiros que prejudicam a reação dentro e fora de campo. As dívidas atingem R$ 225 milhões e crescem a cada mês, devido a problemas com a Justiça Trabalhista. O Bugre também tem dificuldades pela falta de recursos. A venda do Estádio Brinco de Ouro, que está em processo de votação com os sócios, é vista como a única saída.
Enquanto isso não acontece, o elenco tenta se fechar para evitar que o dinheiro prejudique mais uma campanha do Guarani em um Campeonato Brasileiro, como já aconteceu outras vezes (em 2011, por exemplo, os jogadores ficaram o segundo semestre sem receber, durante quase toda a Série B). Os mais experientes pediram a palavra logo na reapresentação e solicitaram foco exclusivamente em questões dentro de campo. Foi o que fez o meia Fumagalli, capitão, jogador mais velho do atual grupo (com 36 anos) e o mais identificado com o Bugre.
Quem chegou há pouco tenta minimizar o problema, mas não consegue esconder a insatisfação. O zagueiro Tiago Bernardi, contratado em meados de abril, evitou qualquer reclamação via imprensa e preferiu não responder se bate um arrependimento por ter aceitado a oferta do Guarani, mesmo sabendo dos problemas. O defensor diz que o assunto está na mão dos cartolas, não do elenco.
– Tivemos alguns problemas nos últimos dias. O Evaristo está tratando diretamente com a diretoria. Demos um voto de confiança para eles. Quando a gente veio, houve uma redução grande para o salário sair em dia. Como conhecia o Evaristo, e ele falou que tudo aconteceria dentro da normalidade, aceitei. É complicado. Claro que todo mundo gostaria de estar num clube que estivesse tudo certinho. Mas é uma situação do futebol brasileiro como um todo. A gente tem que focar – explicou Bernardi.
SAIBA MAIS
A atual administração bugrina prega o baixo teto salarial como forma de reduzir os problemas financeiros do clube (hoje, a maioria dos jogadores recebe menos de R$ 10 mil). A estratégia está em vigor desde o segundo semestre do ano passado, mas o Guarani continua com dificuldades para arcar com os salários.
FONTE: GLOBO