terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ceni x Marcos: O duelo final




Eles são rivais. Eles são amigos. Eles são os maiores goleiros em atividade no Brasil. Mas quem é o melhor, Ceni ou Marcos?



Rogério Felipini Rezeke



Lado a lado, divididos apenas por um muro na avenida Marquês de São Vicente, zona oeste de São Paulo, convivem os centros de treinamento de Palmeiras e São Paulo. Do outro lado da mesma avenida está o campo do Nacional Atlético Clube, da terceira divisão paulista. Foi esse o terreno neutro que Placar escolheu para promover um encontro entre os dois maiores goleiros em atividade no Brasil.



O encontro entre os dois foi breve; era apenas para a sessão de fotos. O alvoroço quase instantâneo causado pela presença de ambos, cercados por crianças ávidas por um autógrafo, é um retrato do que Rogério Ceni e Marcos representam — não só para os torcedores de Palmeiras e São Paulo. Ainda no estacionamento, os dois se encontram e se abraçam, em um gesto carregado de amizade (conviveram na Copa de 2002), mais que respeito mútuo. Juntos, caminham em um papo amistoso, de amigos que têm a mesma idade e carreiras vitoriosas e semelhantes.



As semelhanças entre ambos vão além do CEP em comum e da dedicação vitalícia a seus clubes. Antes de chegar à titularidade, Marcos e Ceni precisaram desbancar Velloso e Zetti, até então titulares absolutos e goleiros da seleção brasileira. Aos poucos, conquistaram a posição e deixaram os ídolos no banco. Marcos e Ceni também tiveram, por boa parte de suas carreiras, fiéis escudeiros que tinham a dura missão de lhes fazer sombra.



Os números das carreiras de ambos são parecidos, embora Ceni tenha mais que o dobro de partidas pelo Tricolor que Marcos pelo Verdão. Em matéria de títulos, Ceni também leva uma pequena vantagem, por ter conquistado o Brasileirão em 2006 e 2007. Marcos foi campeão nacional, mas pela série B, em 2003. Marcos conquistou a Libertadores em 1999. Ceni, em 2005. Mas na maior conquista de ambos, o pentacampeonato com a seleção, em 2002, Marcos leva vantagem, por ter sido o titular.


Dois homens e um destino
Em 2003, Marcos encarou a segundona
Vocês são um exemplo de identificação com um clube. Por que isso é tão raro? Falta amor dos jogadores à camisa?Marcos Talvez sejamos de uma época em que o ponto alto era ser titular de um grande clube brasileiro, como Palmeiras e São Paulo. Hoje o atleta quer ser titular do Milan, ser um dos melhores do mundo... Acho que é normal, muita coisa mudou desde que comecei a jogar. Para mim, o fato de ser reconhecido por jogar no Palmeiras já me deixa extremamente satisfeito. Nunca foi meu pensamento jogar fora do país.Rogério Ceni Adoro jogar futebol, mas adoro muito mais jogar no São Paulo. Para mim, seria menos prazeroso jogar futebol se não fosse pelo São Paulo. Não acho que acabou o amor pelo clube. É que, às vezes, o clube também deixa de amar muito facilmente seus jogadores. Hoje, basta ao atleta fazer um grande jogo para ser negociado no dia seguinte. Se vai mal também, mas para uma equipe menor. Assim fi ca difícil haver uma relação duradoura.



Vocês têm carreiras parecidas, que se cruzaram na Copa de 2002. Como foi a convivência entre vocês?M A convivência com o Rogério, assim como com o Dida, foi sempre muito boa. Goleiro sempre tem muita amizade um com o outro, até torcemos para o outro se dar bem. Na carreira, o Rogério foi mais feliz, pois se machucou menos. Mas conseguimos atingir quase os mesmo objetivos e títulos. Ser comparado ao Rogério é uma coisa fantástica, é um dos grandes goleiros que vi jogar e merece ter tudo o que tem.R Foi muito bacana. Dida, Marcos e eu éramos da mesma idade, nascidos em 1973, e logicamente temos muitas coisas em comum. Só tenho coisas boas para falar do Marcos.



A experiência ajuda os goleiros, mas os reflexos ficam menos apurados. Vocês já sentem o peso da idade?M A experiência ajuda muito. Hoje, faço coisas que, quando era mais jovem, não tinha velocidade para fazer. Agora posso prever, pois já passei pela mesma jogada. Não temos a mesma agilidade dos mais novos, mas temos uma pegada mais firme e um posicionamento melhor.R A cada ano que passa, me sinto melhor. O goleiro é diferente dos jogadores de linha: se estiver em forma e trabalhando em dia, não sente nada. Não vejo diferença de hoje para cinco anos atrás.



No Mundial de 2005,a consagração de Rogério



Se vocês pudessem arrancar uma única habilidade um do outro, o que seria?M Acho que é bater falta. Tenho uma vontade louca de fazer um gol, mas é difícil ir lá na frente, pois tem o contra-ataque. Não tenho a frieza e a tranqüilidade que o Ceni tem para sair jogando. Mas, tirando o Rogério, o Bruno, do Flamengo, e o Júlio César, da seleção, poucos goleiros têm habilidade com os pés. O resto é tudo como eu: quando rola a bola para trás é bico para a frente.R Acho o Marcos um goleiro completo, que tem muita segurança. Não destacaria apenas uma qualidade, mas o conjunto todo. Ninguém se sustenta em um time grande por tanto tempo com apenas uma qualidade.



Que erro você cometeu que ainda tira o seu sono?M Nenhum. Todos os erros que cometi me ajudaram a errar menos hoje. Tudo te dá mais experiência.R O mais chato foi o da Libertadores de 2006, contra o Inter, no Beira-Rio. Foi uma falha que eu não costumo cometer. Tinha chovido antes do jogo, o campo estava molhado... A bola estava pesada, mas não deveria ter escapado no primeiro gol.



E no futuro, o que você pretende fazer?M Meu futuro é tentar ser campeão brasileiro este ano e fazer um bom trabalho ano que vem. Fora do campo, não pensei em nada. Só quero terminar minha carreira em alto nível.R Em casa não fico. Se puder retribuir ao clube de alguma maneira, com meu conhecimento no futebol, vai ser muito bacana. Mas não acho que seria técnico. Não queria me sujeitar, depois de tantas glórias e títulos, a dirigir o clube de que gosto e escutar as pessoas vaiarem ou xingarem. Quero deixar uma imagem sempre boa.




fonte: placar