quarta-feira, 8 de outubro de 2008

CORINTHIANS


E 2009?
Acabou a farra. O Corinthians se prepara para voltar ao seu lugar ano que vem. Ele está preparado para conviver de novo com os grandes? Leia e tire suas conclusões

Um clube que aumentou em 2 milhões de reais sua receita mensal, voltou a comprar bons jogadores e a ter um técnico de ponta. Que conseguiu colocar profissionais respeitados em áreas estratégicas. Que lota estádios e vive lua-de-mel com a torcida. Que já consegue até se planejar e sonhar em disputar títulos ano que vem. Se a gente dissesse em dezembro do ano passado que este seria o Corinthians a esta altura do campeonato, muita gente diria que a previsão era uma loucura total. A Segundona fez bem ao Timão?


"Bobagem. Seria muito melhor estar em décimo na série A que ser o primeirão da Segundona. Estaríamos ganhando muito mais dinheiro. Como torcedor, também preferia ser o décimo da primeira divisão", diz o economista Luis Paulo Rosemberg, vice-presidente de marketing, área que teve bons avanços.


A receita do clube oriunda da cota de TV (repassada pelo Clube dos 13) caiu para a metade na série B, passando de 18 para 9 milhões de reais. O clube compensou (com sobras) a perda fazendo um contrato exclusivo com a Rede Globo para exibir seus jogos, de 3 milhões de reais mais um aditivo por audiência. E também fez um acordo com a FBA, que organiza a série B, para receber um terço da bilheteria quando atuou fora de casa (afinal, o Corinthians lotou estádios por onde passou) e mais 7 milhões de reais pela exploração das placas de publicidade.


Mesmo na Segundona, o clube ganhou o maior patrocínio de camisas do Brasil com a Medial Saúde, que paga 16,5 milhões de reais por ano. E anuncia que dobrou o faturamento em produtos licenciados, na comparação com o ano passado. Houve ações específicas para a série B, como a em que o torcedor escolhia a cor do uniforme para o jogo contra o Brasiliense, pagando 1 real para votar (a roxa venceu disparado), os produtos da série "Nunca Vou te Abandonar" e a camisa (feia de doer) que terá fotos de torcedores na partida do acesso — poderá render 2 milhões de reais ao clube. A bilheteria também aumentou em relação a 2007. "Não é que o torcedor tenha ficado mais apaixonado no sofrimento. É que antes não havia ações como essas", diz Rosemberg. Será? Ano que vem saberemos.


Segundo contas exibidas pela atual gestão, o Timão teve 54 milhões de reais de receita nos sete primeiros meses do ano, contra 39,7 milhões de reais no mesmo período do ano passado (aumento de 36%). Para entender o que isso representa, basta ver que de janeiro a julho do ano passado, o Corinthians ficou no vermelho, com um prejuízo de 19 milhões de reais, contra um lucro de 12,3 milhões no período correspondente deste ano. O Corinthians, que sempre foi o clube paulistano (dos grandes) mais atrasado em sua gestão, terá, a partir de novembro, 15 lojas em shoppings centers da cidade, vendendo de canetas a camisinhas do Timão.


Foram essas receitas (aliadas a um equacionamento da dívida de quase 100 milhões de reais, fazendo parcelamentos com os credores e evitando o pagamento de multas e juros) que permitiram ao clube comprar bons jogadores a partir de maio, como Douglas e Morais. Antes disso, vamos falar a verdade, primou mais pela quantidade. No bolo, vieram atletas contestados como Perdigão, Marcel, Lima, Bóvio...


"Quando chegamos, tínhamos 40 dias para formar um time novo e não havia os recursos que temos hoje. Mandamos embora 20 jogadores do elenco de 2007. Fomos comprando mais na quantidade mesmo, era uma emergência", diz Antônio Carlos, amigo de infância do presidente Andrés Sanchez (eram feirantes, vendiam sacolas plásticas e carregavam caixas de frutas juntos).


Ele estréia na função de coordenador. "Trouxemos 30 jogadores. Isso não é normal para um clube organizado. Para o ano que vem, traremos três ou quatro. Serão contratações pontuais e estratégicas."


Para o ano que vem, o alvo é um centroavante de respeito. O clube tentou Kléber Pereira, sonhou com Keirrison e Liédson, sondou Brandão, do Shakhtar, e achou caro demais pagar 1 milhão de dólares pelo empréstimo de Vágner Love. Pensou no são-paulino Borges. Todos impossíveis. Herrera, visto como um ótimo reserva, só fica se o preço para comprá-lo baixar (bem) dos atuais 2,4 milhões de dólares.


No meio do ano, o clube vendeu parte dos direitos de Dentinho e André Santos para empresários, porque não tinha dinheiro para bancar a folha de pagamento (as receitas não estavam disponíveis para o futebol, havia compromissos mais urgentes com credores). O clube ainda quer vender pelo menos um jogador: Felipe (que não está nem no time dos sonhos da diretoria nem no do treinador), Chicão, André Santos, Dentinho, Douglas e, eventualmente, Lulinha — o garoto foi para a reserva, mas também cresceu com Mano Menezes. São esses seis que podem dar um bom lucro. E viabilizar a chegada do sonhado camisa 9.


Desde agosto, o Corinthians pensa mais em 2009 que na Segundona. Aproveitou o meio da temporada, quando ninguém está fazendo grandes negócios por aqui, para comprar jogadores por preços mais camaradas, sem concorrência. "Poderemos dar férias para alguns atletas antes de acabar a série B. Vamos começar 2009 mais cedo que nossos rivais e fazer uma pré-temporada rara. O Corinthians vai brigar pelo título paulista e pela Copa do Brasil. A meta é se classificar para a Libertadores de 2010. Como para chegar lá tem que ficar entre os quatro primeiros do Brasileiro, não custa sonhar um pouco mais", diz Antônio Carlos.


Em fevereiro tem eleição. Sanchez é novamente candidato. Vai levar. É fácil viver em harmonia na série B, com uma vitória atrás da outra e a imprensa tendo de caçar fantasmas ("agora o Avaí pode chegar", "cuidado com a subida do Barueri") para criar alguma emoção. Nem sempre foi assim. Quando chegou, Mano ficou incomodado com a quantidade de dirigentes (nomeados por Sanchez) que davam pitacos, entravam no vestiário, vazavam segredos para a imprensa. Hoje, são apenas o vice de futebol, Mário Gobbi, e Antônio Carlos. Mais ninguém entra no vestiário, considerado "sagrado" pelo treinador. O técnico vai renovar o contrato e ficar para 2009. Está satisfeito. Mas não se engana com as demonstrações de "amor eterno" da Fiel.


Na Segundona, o time tem média de 22000 pagantes como mandante (contra 19000 quando lutou contra o rebaixamento, em 2007). É festa até quando joga mal. Mas esse "novo Corinthians" ainda não foi testado para valer. Em uma conversa com a equipe da Placar, Mano disse que um time só está formado depois de ser obrigado a apertar o cinto em um momento de turbulência. As nuvens certamente vão chegar. Depois de conhecer o inferno e beijar o diabo, o Timão parece preparado para seguir viagem. Acabou a farra.


fonte: placar